Boletim do OTAL – NOVEMBRO DE 2013
Apresentação:
Wallace Moraes
É com muito prazer que lançamos o último boletim do OTAL do ano de 2013. Analisando o último semestre percebemos que conseguimos alcançar o nosso principal objetivo: furar a censura da grande mídia e divulgar as lutas populares em toda a região, que, aliás, não foram poucas. Os boletins mostraram lutas em diferentes países e inclusive com características muito similares, dentre elas estiveram: 1) O uso de máscaras ou objetos que escondessem os rostos pelos insurgentes das linhas de frente; 2) a negação da política institucional viciada e dominada pelo poder econômico e pelos burocratas; 3) a ação direta. Estas foram em muitos países algo em comum. No futuro os historiadores sérios deverão escrever que o ano de 2013 foi marcado pelo levante popular na América Latina. Se esse levante conduzirá a uma nova forma de fazer política em toda a região é cedo para dizer, o ano de 2014 poderá confirmar ou não essa perspectiva, sobretudo por ser ano de eleições em muitos países. No Chile, recentemente, mais da metade da população não escolheu qualquer candidato para governar o país. Trata-se de uma tendência que vem se fortalecendo desde a década de 1990 na Europa e na América Latina. Pensando um pouco para o futuro. O Brasil no ano que vem será um grande laboratório para a luta. De um lado estarão os governantes, o poder econômico, a grande mídia e todos os partidos políticos eleitoreiros pedindo voto para seus candidatos; de outro, estarão os lutadores do povo protestando nas ruas contra a farsa eleitoral e os gastos exorbitantes com a copa e as suas remoções. Que venha 2014. Desejamos aos governados um ano de muitas lutas para que não sejam mais chamados por esse nome!
Argentina:
A “Marcha de la gorra”, a crise policial e os saques em Córdoba
Pesquisador responsável: Eduardo dos Santos de Matos
No último dia 20 de novembro teve lugar na província de Córdoba uma grande manifestação contando com mais de 15 mil pessoas. A chamada “marcha de la gorra”, (marcha do boné) acontece desde 2006, e teve nesta sétima edição o número de participantes duplicados em relação ao último ano. Organizações sociais, estudantes e partidos políticos cortaram as ruas da cidade com bandeiras, placas das suas reivindicações e um grito emblemático: “sua segurança nos limita, nossa resistência é infinita”. Lutam principalmente contra o código de delitos, um conjunto de leis criados com o objetivo de combater o tráfico de drogas, mas que ao mesmo tempo dá a polícia poderes de uma ditadura. A marcha pede o fim da tortura e o desaparecimento de pessoas, além do recrutamento de jovens pelo narcotráfico.
Seguindo no caminho contrário ao da marcha, a mídia conservadora preferiu condenar as pichações feitas em uma igreja, ao invés de noticiar os abusos policiais sofridos pela população. O Coletivo de jovens, principal movimento social por trás da marcha, denuncia que há mais de dois anos a polícia não apresenta os dados das detenções realizadas na província, informação que é de acesso público, e acreditam que já passam de 200 por dia, na sua maioria de jovens e pobres. O boné, por ser um acessório usado principalmente pelos mais novos, se tornou o símbolo da manifestação, e traz consigo a arbitrariedade da força policial que discrimina claramente os jovens. Entre as denúncias, também lembram e se solidarizam com os vendedores de artesanato, com a repressão sofrida pelos manifestantes contra a instalação de Monsanto na cidade de Malvinas Argentinas, (Boletim Outubro Argentina) com a precariedade dos hospitais e centros de saúde mental, com as más condições de trabalho e garantia de direitos dos(as) trabalhadores(as) sexuais, notoriamente perseguidos pela polícia da província e por fim exigem também o controle civil das forças de segurança.
A polícia de Córdoba assim como a do Rio de Janeiro e do Brasil se especializou em prender jovens moradores de bairros pobres. Uma pesquisa feita pela Universidade Nacional de Córdoba e da Universidade de Rioja, (Espanha) durante os anos de 2011 e 2012, mostrou que 38,9 por cento dos jovens entrevistados, entre 18 e 25 anos já haviam sido detidos pelo código de delitos, e que 54,6 por cento eram moradores de áreas de baixa renda. Pesquisa reforçada pelo número de detenções que entre 2004 e 2009 passou de 10 mil por ano para 50 mil. Para continuar a pequena comparação, em Córdoba, assim como no Brasil, a polícia manteve a mesma estrutura vigente no regime militar, sendo a única força policial na Argentina não reestruturada mesmo depois do retorno à democracia. Dentro dos principais absurdos do código de delitos, estão a “vadiagem” e a proibição de reuniões de massa.
Desde o meio de setembro, a polícia de Córdoba agravou ainda mais a sua crise institucional. Um canal de televisão local trouxe a tona um esquema de corrupção que envolvia a mais alta cúpula das forças de repressão da província, com provas de envolvimento de seus membros com o tráfico de drogas. A denúncia culminou com a renúncia do ministro de segurança Alejo Paredes e o chefe da polícia Ramón Frías, além da prisão do ex-chefe do departamento de drogas perigosas, Major Mario Nieto.
A crise dentro da polícia, as más condições de trabalho e o baixo salário teriam provocado o aquartelamento das forças de segurança nas últimas terça e quarta-feira 03 e 04/12/. Durante a greve que chegou ao fim após 30 horas de aquartelamento, ocorreram diversos saques e atos violentos. Alguns dizem que os saques foram coordenados, com o uso de carros e motocicletas e teriam estranhamente poupado certos centros comerciais. A reação dos donos de pequenos negócios e lojas foi bastante violenta, criando barricadas e utilizando armas de fogo contra os saqueadores. Pelo menos uma pessoa morreu e centenas ficaram feridas durante os acontecimentos. Não houve bairro em Córdoba onde não se escutassem tiros e ocorressem saques.
A situação na cidade é gravíssima, a crise política e policial chegou a um patamar nunca visto antes. A precariedade de grande parte da população e a polícia que guarda todos os aspectos das forças militares de uma ditadura culminou com uma reação direta dos setores precarizados. Ao mesmo tempo, os donos de comércio e pequenos negócios clamam imediatamente pela volta da repressão policial, encarnando o mais perigoso reacionarismo. Com isso, só se torna mais evidente a convergência de interesses de uma polícia corrupta, um governo opressor e a criminalização das lutas populares através da grande mídia e os governos. A tentativa de vincular a “marcha de la gorra” com os saques ocorridos já veio por parte de alguns políticos. Parece que a tríplice: governo, repressão policial e mídia são uma constante pelo mundo.
Fontes:
Coletivo de Jovens
http://prensa.colectivodejovenes.org/miles-contra-el-abuso-policial/#.UqJ-HfRDtyw
http://prensa.colectivodejovenes.org/comunicado-repudio-a-declaraciones-de-dragun/#.UqJ6b_RDtyw
http://prensa.colectivodejovenes.org/los-nadies-y-las-paredes-conservadoras/#.UqJ-AvRDtyw
IndyMedia
http://argentina.indymedia.org/news/2013/12/851564.php
http://argentina.indymedia.org/news/2013/12/851568.php
http://veintitres.infonews.com/nota-7897-sociedad-Van-a-venir-cambios.html
Telam
COLÔMBIA
Após as grandes mobilizações, o povo colombiano enfrenta agora os obstáculos institucionais e militares do Estado.
Pesquisador responsável:Lucas Bártolo
Depois da intensa repressão contra a população colombiana que têm saído às ruas em protestos no país, foram instauradas algumas mesas de negociações entre os movimentos sociais e o governo, muito embora a repressão não tenha cessado. Desses diálogos alguns acordos foram estabelecidos. Os trabalhadores colombianos, no entanto, encontram um grande obstáculo à conquista de seus direitos no não comprimento dos acordos frutos desses diálogos, aspecto já característico da administração de J. M. Santos. Aliás, um dos pontos na pauta dos trabalhadores no grande levante deste ano foi justamente o descumprimento de direitos, muitos desses até mesmo já previstos em lei. A Mesa de Interlocução e Acordo de Catatumbo, por exemplo, montada há cerca de quatro meses para a negociação entre campesinos e o governo, está embargada pelas manobras do presidente, que impede a implantação da Zona de Reserva Campesina de Catatumbo (ZRC-C), prevista em lei desde 1994 e por decreto desde 1996, sob a justificativa de preservação das terras indígenas que seriam violadas caso fosse implantada a ZRC-C. Esse aparente zelo do governo para com os indígenas é facilmente desconstruído quando se percebe que os povos originários se posicionam ao lado dos campesinos, numa relação de apoio mútuo, pela defesa de seus territórios contra os interesses das empresas transnacionais que detém uma parte cada vez maior das terras colombianas.
Outro e ainda mais preocupante obstáculo à luta dos trabalhadores é a repressão das forças armadas oficias, da polícia, do ESMAD (Esquadrão Móvel Anti-Distúrbio). Além da atuação paramilitar no interior, agindo sob o consentimento das autoridades públicas. O paramilitarismo associado ao narcotráfico conta, por exemplo, com o suporte dá bastante conhecida “narcobancada”. No dia 19 de novembro de 2013 foram feitas ameaças ao Sindicato Estudantil (SIES), mobilizados em defesa da universidade pública, por meio de folhetos assinados por um determinado grupo paramilitar. Por sinal, o mesmo grupo que no mês anterior havia ameaçado integrantesda Minga Social Indígena e Popular. As denúncias contra os braços repressores do Estado são incontáveis e surgem de diversos estados do país. No início de novembro, a Associação Campesina para o Desenvolvimento do Alto Sinú (ASODECAS) denunciou um ataque aéreo promovido pelo exército nacional contra as moradias dos camponeses; que embora não tenha resultado em feridos, evidencia a forma como tem sido tratado o povo colombiano por aqueles que governam. Outra ocorrência é o assassinato de um trabalhador da Nestlé filiado ao Sinatrainal, que estava em greve de fome, juntamente com outros companheiros de trabalho, na luta por direitos que a multinacional lhes negava. Dias antes, os trabalhadores haviam sido ameaçados por uma mensagem de texto enviada por um grupo paramilitar, acusando-os de serem guerrilheiros e também defendendo a empresa multinacional. A atuação paramilitar em prol do grande capital, exemplificada no crime supracitado, dimensiona claramente um dos árduos obstáculos enfrentados pela classe trabalhadora colombiana. Uma realidade na qual o paramilitarismo, o grande capital e o Estado estão cada vez mais relacionados, num ponto tal que se torna um desafio delimitar as dimensões particulares de cada uma dessas esferas.
Como se não bastasse, para somar à intransigência autoritária do governo e ao seu arsenal repressivo, o Ministro da Defesa tenta aprovar no parlamento um projeto de lei que condena de três a cinco anos de prisão os manifestantes que bloquearem as vias públicas, criminalizando o legítimo direito à mobilização. É curioso atentar para tal medida autoritária tomando como referência o atual contexto na qual a situação está inserida: A mesa de diálogos de paz entre a guerrilha e o governo que tem por objetivo o encerramento dos conflitos armados no país através da reinserção dessa oposição no cenário político-eleitoral dito democrático.
Leia mais em:
http://www.cric-colombia.org/portal/grupo-paramilitar-de-los-rastrojos-amenazan-la-minga/
MÉXICO – Novembro consolida o ano de 2013 como um ano histórico para as lutas populares no México.
Pesquisador responsável:Anízio Lobo
O povo mexicano reage à reforma da educação esofre com a represália do Estado. Cerca de 3 mil professores do estado de Veracruz marcharam entre os municípios de Hemiciclo eJuárez, chegando até a sede do governo estadual. Os profissionais que reivindicavam a reabertura das mesas de negociação entre a categoria e o governo não foram recebidos por representantes do Estado.Muito pelo contrário, se viram impedidos de se aproximar do prédio público devido a instalação de barreiras de aço com cerca de 3 metros de altura. Outra medida adotada pelo Estado mexicano para reprimir qualquer forma de manifestação em sua oposição, foi a abertura de investigação pela Procuradoria Geral da República contra os professores, pais e mães que participaram dos protestos em oposição a reforma da educação.Esses manifestantes interditaram, ao longo de vários dias, trechos das principais estradas no Estado de Campeche. Essa investigação tem sido feita junto aos órgãos do executivo local com o objetivo de identificar os profissionais envolvidos nas manifestações e promover a mais óbvia perseguição política e jurídica.
No contexto latino-americano em que as FARC-EP, da Colômbia, apresentam sinais de caminhar para uma burocratização, no México surge um novo foco de guerrilha rebelde armada com o objetivo de resistir ao autoritarismo do governo, as Fuerzas Armadas Revolucionarias – Liberacióndel Pueblo (FAR-LP). A declaração de início das atividades do grupo se deu em meados do fim de novembro, no Estado de Guerrero.Neste comunicado o grupo declarou que, em face da forte repressão estatal sofrida pelos movimentos sociais, pegar em armas é fundamental para preservar os direitos populares. O grupo reivindica a defesa dos professores afetados pela autoritária reforma do sistema educacional, dos povos que têm suas terras invadidas por empreiteiras sob o argumento de um pretenso desenvolvimento nacional, e da juventude que tem sido fortemente reprimida nas manifestações contra o governo. Logo, ele reivindica claramente a libertação de todos os presos políticos do Estado Mexicano – desde militantes do Ejército Popular Revolucionario (EPR) presos ainda na década de 90, até coordenadores das polícias comunitárias presos nesse ano de 2013. Os insurgentes ainda destacam que nessa região, ao longo dos últimos anos, têm sido registrados altos índices de assassinatos de lideranças camponesas, indígenas e estudantis. Então, ao se apresentar no cenário político deste país junto aos EPR e EZLN, esse grupo surge como um fortalecimento das lutas de uma esquerda mexicana combativa.
Fontes:
http://www.kaosenlared.net/america-latina/item/75419-m%C3%A9xico-guerrero-guerrilla-gobierno.html
URUGUAI
Pesquisador responsável: Guilherme Moreira
Como dito no boletim do mês passado os manifestantes presos por protestarem contra a troca da juíza no caso da investigação dos crimes políticos da ditadura militar ainda continuam presos. Os sete manifestantes estão sendo acusados do crime de atentado. Mais uma vez, o Estado utiliza seu poder para criminalizar o movimento popular.
Associado a isso, o governo apertou o cerco a manifestantes e a bairros mais pobres de Montevidéu. Com efeito, vários inocentes foram presos e até mortos. A população não se calou e promoveu piquetes contra os atos policiais, mas até o momento ninguém foi responsabilizado.
Tal situação política do Uruguai nos remete ao que ocorreu no Brasil. Ficou claro o tratamento dado pela polícia aos manifestantes nas passeatas, no qual foram usadas balas de borracha e bombas de gás. Todavia, quando a manifestação foi na favela da Maré, treze pessoas foram assassinadas pela polícia. Confirmando o que diz o jargão “Na favela a bala é de verdade”. O caso Amarildo não foi uma exceção, sabemos que é a regra.
Sendo assim o terrorismo de Estado não é exclusivo do Brasil, pois o Uruguai também utiliza dessa prática. Mesmo tendo no poder um governo tido por muitos como revolucionário, mas que ainda não foi capaz de solucionar os problemas que perduram desde a ditadura.E os crimes políticos atuais, quem julgará?
Boletim de novembro – Equador
Pesquisadora responsável: Cecília
Seguem reações dos movimentos sociais às recentes mudanças aprovadas pela Assembleia Nacional
Entre os dias 4 e 6 de novembro ocorreu o Encontro “Democratizar a palavra na integração dos povos”, com a participação de mais de 40 representantes de movimentos sociais e de meios de comunicação populares, comunitários e alternativos. Ocorrido em Quito, o objetivo do encontro era priorizar a integração da América Latina e atentar para a importância da democratização dos meios de comunicação para esse processo. Apesar dessa constatação,faltam aos organismos de integração latino-americana pautas prioritárias referentes a esse tema,sendotambém necessário incorporardemandas de igualdade de gênero, étnica e etária. A internet também foi citada como novo espaço para formação de correntes de opinião e pensamento crítico, portanto, também deve ter apoio para a democratização das informações produzidas nela. Também incentivam a formação de observatórios de meios de comunicação que possam aumentar o envolvimento de movimentos sociais, cidadãos e acadêmicos, além do investimento em formação e capacitação. Em sua declaração final, defendem aimplementação de paridade de condições a meios estatais, privados e comunitários.
O Equador, país escolhido como sede do encontro, aprovou em junho a Lei Orgânica de Comunicação, alcançando essa paridade entre meios estatais, privados e comunitários, proporcionando assim maior democratização da mídia equatoriana. Esse e outros avanços de países latinoamericanos referentes aos meios de comunicação foram temas centrais dos debates, nos quais foi esclarecida a importância da participação das lutas populares nessa conquista e a necessidade de aprofundar essas mudanças, pois numa perspectiva libertária entende-se que a lei nunca será suficiente para meios verdadeiramente populares, essa conquista só pode vir da luta popular.
Se a mudança referente aos meios de comunicação vem numa perspectiva progressista no Equador, não se pode falar o mesmo da reforma do Código Penal, cujo ponto mais polêmico é referente à criminalização do aborto: houve um aumento da penalidade de 1 a 3 para 1 a 5 anos de cadeia. Durante o mês houveprotestos de movimentos feministas contra essa lei. No dia 22, na cidade de Ambato, província de Tungurahua, cerca de 60 pessoas fizeram um plantão em frente à promotoria e entregaram a um promotor um pronunciamento que exigia justiça para as mulheres vítimas de violência machista. O grupo protestava, principalmente, contra a recente morte de VanessaLadinez. Feito isso, o promotor se comprometeu a averiguar o assassinato de Vanessa, e também se este tinha sido, afinal, um caso isolado de violência – o que indignou as manifestantes. No dia seguinte (23, sábado), em Quito, ocorreu a Marcha de las Putas Ecuador, na Plaza Grande. Houve performances, leitura de manifesto, poesia, música, elaboração de cartazes. Além disso, o Movimento de Mulheres do Equador redigiu uma declaração em virtudedo Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher (dia 25 de novembro), chamada “Todo retrocesso em direitos alcançados é violência”, exigindo a despenalização do aborto em caso de violência sexual, além de uma Lei Orgânica de Erradicação da Violência contra a Mulher.
Em 2007, o Equador promulgou o decreto executivo 620, que declara que uma das políticas do Estado é a erradicação da violência de gênero. Mesmo assim, os números do país são gritantes. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (INEC), 6 em cada 10 mulheres do país já sofreram violência de gênero.
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Com-um-grito-na-voz/12/29608 e
CHILE
Pesquisadora responsável:Bárbara Dantas
A paralização dos mais de 4500 funcionários dos correios chilenos, ocorrida em Julho e Agosto teve fim com a votação realizada entre os trabalhadores, onde lhes cabiam a decisão de acatar ou não àquela que seria a última proposta da empresa, cuja oferta indicava aumento salarial de 40 mil pesos mensais (R$ 176,68), bonificação de um milhão de pesos (R$ 4417,00) pelo fim das manifestações, paga em duas parcelas (o que mais tarde se revelou na verdade apenas um adiantamento) e contrato coletivo de 36 meses. Ainda que a proposta tenha sido acatada, a votação organizada pelas bases foi criticada por parte dos trabalhadores, alegando que a rapidez com que fora realizada impossibilitou muitos de compreenderem a proposta. A mobilização foi uma das maiores do serviço público chileno nos últimos anos e se desenrolou através de passeatas em diversas cidades do país, manifestantes em greve de fome e acampamentos nas margens do Rio Mapocho.
Além dos Correios, trabalhadores de diversas empresas estiveram mobilizados no Chile entre os meses de setembro e novembro. Em greve, eles denunciaram as realidades pífias de trabalho asseguradas por suas empregadoras, revelando as condições insalubres a que estão expostos e exigindo aumento salarial. Estiveram em greve trabalhadores da União Portuária Atacama, da transnacional sueca H&M, da Empresa Carlos Herrera, da Ferreteria La Olleta, dos supermercados Montserrat, das lojas Sodimac, da clínica alemã Temuco, funcionários públicos do Registro Civil, subcontratados da empresa Servex (que atende as empresas Quillayes, Simonds, Unilever, Fósforos Copihue), trabalhadores da ASMAR e funcionários do Starbucks. Houve ainda mobilizações dos trabalhadores rodoviários das diversas empresas do Transantiago e dos subcontratados da Proingeo que trabalham na mina Quebrada Maléndez, pertencente à empresa Minera Carola.
Em setembro, no dia 11, o Chile completou 40 anos do golpe militar e a subseqüente ditadura de Pinochet. Durou dezessete anos, um espaço de tempo onde todos os direitos humanos foram violados e as mais terríveis atrocidades foram cometidas contra o povo. Um tempo onde a instauração do terror, do medo e da dor pairou como a premissa do Estado. Passados 40 anos do golpe, o povo chileno não se calou frente àquele passado que ainda é presente na memória e no cotidiano. Ainda hoje o Chile vive sob o julgo da Constituição instaurada no regime militar com modificações executadas no governo de Ricardo Lagos em acordo com a extrema-direita do país. Em repúdio a falsa democracia chilena e em memória das vítimas e das famílias dos desaparecidos da ditadura, o povo saiu às ruas para protestar e foi brutalmente reprimido pela polícia. Mesmo autorizada, a passeata convocada pela Assembléia Nacional pelos Direitos Humanos que contava com mais de 30 mil pessoas e seguia pelas ruas de Santiago, foi violentamente interrompida pela polícia, que atacou os manifestantes com bombas de gás e caminhões com jatos d’água.
O aniversário do golpe militar também foi recordado pelo povo mapuche, que sofreu com a perda de seu território quando o poder fora tomado por Pinochet. Dos 10 milhões de hectares que lhes haviam sido devolvidos na reforma agrária do governo Allende e pela ação direta das ‘corridas de cerco’, restou um milhão, a ser partido entre organismos estatais, Corporação Nacional Florestal e Forças Armadas do Chile. Os outros 9 milhões foram devolvidos aos antigos latifundiários ou leiloados. As organizações mapuches passaram a ser proibidas e consideradas fora da lei pelo regime militar, revelando sua brutalidade em centenas de indígenas presos, torturados e executados. Hoje o povo mapuche segue lutando; a Comunidade MapucheAraucoMalleco – CAM,busca sua independência e autonomia de todas as instituições do Estado chileno, alegando que este é o primeiro passo para a superação da atual condição opressora em que vivem, enquanto outras comunidades, como a Identidade Territorial Lafkenche, defendem uma Assembléia Constituinte para elaboração de uma nova constituição plurinacional. Se o povo segue lutando, a polícia segue humilhando e torturando, bem como o Estado chileno que oprime a população indígena e explora os recursos naturais das regiões mapuches, agindo sempre em benefício das grandes corporações capitalistas. No mês de outubro, na região mapuche de Temucuicui, um efetivo da polícia militar destruiu mais de 20 hectares de plantação, moradias, ferramentas agrícolas e atropelou vários animais da comunidade. Agrediu e deteve cidadãos mapuches, além de atingir com arma de fogo um membro da Comunidade Autônoma de Temucuicui. Os militares utilizaram retro-escavadoras e tratores para destruir o espaço e abrir caminho para que os tanques e carros policiais chegassem à área. Na delegacia, os detidos continuaram sendo brutalmente agredidos. As repressões seguiram nas comunidades indígenas, com uma série de prisões políticas. Logo os presos fizeram denuncias alegando que vinham sofrendo restrições de seus direitos no encarceramento. Dois presos permaneceram em greve de fome em protesto por suas prisões políticas, enquanto seus familiares e aderentes da causa mapuche protestavam. A Corte Suprema os condenou a 10 e 15 anos por atos vinculados ao conflito territorial na zona de Chequenco. A condição que o Estado chileno reserva aos mapuches desencadeou uma série de protestos no país, sempre duramente reprimidos pelos carabineiros.
Em novembro ocorreram eleições para presidência, para o Congresso e para os 15 Conselhos Regionais, levando a ex-presidente, Michelle Bachelet e a candidata Evelyn Matthei ao segundo turno na disputa presidencial. Com voto facultativo, a abstenção nestas eleições alcançou a marca de 50.7%, num total de 6,5 milhões de eleitores dentro de um universo de 13,5 milhões de pessoas aptas a votar, revelando uma crise de representatividade no país. Antes desta última votação foi realizada uma campanha massiva nas redes sociais, denominada Marca tu voto, que pedia que em forma de protesto, os eleitores escrevessem a sigla AC nas cédulas, em referência ao anseio por uma Assembléia Constituinte. Uma parcial realizada no dia da eleição sugeriu que cerca de 8% das cédulas estivessem com as siglas. O segundo turno segue dia 15 de dezembro e Bachelet é apontada como favorita.
http://www.kaosenlared.net/america-latina/item/74141-la-abstenci%C3%B3n-crisis-de-representatividad-en-chile.html
http://www.kaosenlared.net/america-latina/item/74014-elecciones-chile-bachelet-y-matthei-pasan-a-segunda-vuelta-el-15-de-diciembre.html
http://www.kaosenlared.net/america-latina/item/73834-video-justicia-chilena-confirma-condenas-contra-j%C3%B3venes-mapuche-en-huelga-de-hambre.html
http://www.kaosenlared.net/america-latina/item/73323-chile-carabineros-a-disposici%C3%B3n-de-negocio-forestal-se-dedica-a-reprimir-mapuche.html
http://www.kaosenlared.net/america-latina/item/67425-40-a%C3%B1os-y-la-constituci%C3%B3n-de-pinochet-sigue-vigente.html
http://www.kaosenlared.net/america-latina/item/67645-chile-a-40-a%C3%B1os-de-muertos-zombis-y-fantasmas.html
http://www.kaosenlared.net/america-latina/al/chile.htmlhttp://www.kaosenlared.net/america-latina/item/67933-video-chile-esto-no-saldr%C3%A1-en-la-tv-la-represi%C3%B3n-en-la-marcha-por-el-golpe-de-estado.htmlhttp://www.kaosenlared.net/america-latina/item/67960-chile-dictadura-chilena-otro-11-de-septiembre–%E2%80%9Cmarcho-con-tu-rostro-y-llevo-tu-proyecto-en-mi-memoria%E2%80%9D-casapueblos-aedd.htmlhttp://www.kaosenlared.net/america-latina/item/69797-mapuche-en-lucha-en-territorio-de-chile-el-pensamiento-emancipatorio-de-la-coordinadora-arauco-malleco.htmlhttp://www.kaosenlared.net/america-latina/item/70830-fotos-brutal-ataque-a-temucuicui-torturas-detenciones-destrucci%C3%B3n-de-casas-robos-y-muerte-de-animales.html
http://www.labatalladelostrabajadores.cl/
http://www.labatalladelostrabajadores.cl/finaliza-historica-huelga-de-correos-de-chile/
BOLÍVIA
Pesquisador responsável:Karen Barrientos
Na Bolívia, Evo Morales parece querer agradar ao funcionalismo com o novo decreto que oficializou o pagamento do décimo terceiro dobrado a partir deste ano. Segundo Morales, a bonificação extra será dada aos funcionários públicos e privados sempre que o Produto Interno Bruto (PIB) do país ultrapassar a taxa de crescimento de 4,5% ao ano. Segundo estimativas do próprio governo, em 2013 a Bolívia terá umcrescimento do PIB de aproximadamente 6,7%, resultante de políticas de cortes de gastos e das exportações de gás e minérios.
No entanto, este decreto não agradou boa parte dos setores patronais. Eles alegam que o pagamento pode ser um risco para a economia do país, que pode ficar sobrecarregada e gerar a inflação, além de ser um risco principalmente para as pequenas empresas.
Diante das críticas, Morales baseou-se no “Decreto 1754” (que transfere empresas falidas para os trabalhadores administrarem) para tentar rebatê-las e dizer aos empresários que se houver quebra da empresa, provocada pelo pagamento em dobro da bonificação salarial, esta mesma empresa não ficará abandonada, e passará a seruma empresa social comunitária.
As críticas dos setores empresariais não pararam por aí, e no último dia 29, Morales estendeu o prazo de pagamento do décimo terceiro até 28 de dezembro, somente para funcionários privados.
http://www.economiabolivia.net/2013/11/20/evo-morales-anuncia-doble-aguinaldo-a-partir-de-la-fecha-para-trabajadores-publicos-y-privados/
Pesquisador: Gabriel N. Inchausp.
A LUTA DOS TRABALHADORES E ESTUDANTES NO HAITI
Em 2009, manifestações populares tomaram as ruas do Haiti. O congresso haitiano aprovou por unanimidade o aumento salarial de sua população. A aprovação, que elevou o valor da hora de trabalho para 62 centavos de dólar, não foi bem recebida por empresários capitalistas que têm suas fábricas instaladas em território haitiano. A embaixada estadunidense reagiu a favor dos grandes empresários instalados na região e vetou o aumento no país que é o mais pobre das Américas, e a população é calada brutamente pelas “forças de paz” das Nações Unidas (Minustah).
Os donos das gigantes da indústria têxtil dos EUA (Dockers, Levi’s, Nautica) se recusaram a pagar o aumento, que equivale a 5 dólares por dia de trabalho (jornada de 8 horas). Em 2009, a hora de trabalho no Haiti era de 21 centavos de dólar por hora. A população foi às ruas e fez diversas exigências. Entre as exigências da população, estava a saída da Minustah (missão militar da ONU dirigida pelo exército brasileiro), o aumento salarial e melhorias nas condições de trabalho.
Segundo documento revelado pelo site Wikileaks, a embaixada dos EUA se reuniu a portas fechadas com empresários da indústria têxtil e demonstrou total apoio ao veto dos aumentos no setor têxtil. Uma das constatações de tal reunião seria o receio em aumentar o salário dos trabalhadores e causar uma luta por melhorias na região do Caribe, pois o Haiti é concorrente da República Dominicana e da Nicarágua na produção internacional de tecidos para o mercado americano.
Os empresários propuseram um aumento salarial de 9 centavos de dólar por hora de trabalho, o que resultaria em 31 centavos de dólar por hora de trabalho. A população, completamente insatisfeita, foi às ruas e reclamou um aumento. O embaixador dos EUA, Janet Sanderson, chegou a declarar que se o Presidente René Préval não interviesse, a situação política poderia sair do controle.
Sentindo-se pressionado pela movimentação das ruas, o presidente René Préval decide um aumento imediato dos salários, que subiriam de 22 centavos de dólar por hora para 62 centavos por hora . Tal medida foi duramente criticada pelo embaixador estadunidense em Porto-Príncipe, que, contraditoriamente, acusou Préval de tomar medidas populistas para aquietar sua população e tentar ganhar apoio popular para uma possível reeleição em 2011.
Antes disso, Préval tentou até mesmo propor dois tipos de salário-mínimo: um para a indústria têxtil (3, 13 dólares/jornada de 8h) e um outro para outras indústrias e setores comerciais (5 dólares/jornada de 8h).
Tal medida também não agradou os empresários e a embaixada norte-americana, que alegou que o setor têxtil seria desfavorecido por ser menos atrativo que outros setores, o que esvaziaria as linhas de produção.
A medida reacendeu os protestos no país e fez com que os trabalhadores entrassem em confronto direto com o governo de René Préval. Por duas semanas, operários da indústria têxtil e estudantes realizaram uma impressionante jornada de lutas pelo reajuste salarial. A luta dos trabalhadores recebeu amplo apoio dos universitários do país. Marcharam todos juntos e enfrentaram forte repressão da Minustah e da Polícia Nacional do Haiti (PNH).
Durante os protestos pelo reajuste, 10 e 11 de junho, uma forte repressão das forças da ONU e da polícia invadiram a universidade do país e executaram dois estudantes, que estavam diretamente ligados aos protestos.
Escândalos de corrupção e compra de votos acabaram marcando a derrubada do salário diário de 5 dólares para 3,57.
A mídia brasileira se omitiu ao não expor o conflito no Haiti envolvendo tropas brasileiras como medida de proteger o governo Lula (PT), que planejava a eleição da atual presidente Dilma Rousseff, que seria eleita no ano seguinte ao confronto (2010).
O TERREMOTO EAS REMOÇÕES DE DESABRIGADOS
Após o terremoto ocorrido no ano de 2010, que matou cerca de 300 mil pessoas no Haiti, os desabrigados sofrem com a falta de moradia e de assistência do governo de Porto-Príncipe.
O agora ex-presidente Préval, que não conseguiu a reeleição por não ser um confiante representante dos interesses capitalistas na ilha caribenha, nada fez ainda em seu mandato para dar assistência aos desabrigados. O atual presidente, Michel Martelly, tem claramente o apoio da embaixada dos EUA, e até agora apenas defendeu os interesses dos capitalistas da região.
Mesmo depois de 3 anos da tragédia, o país permanece com a falta de infraestrutura, médicos e hospitais.
Organizações que atuam em defesa da habitação e direito à moradia realizam uma série de atividades de sensibilização para chamar atenção da sociedade e lembrar que o Estado deve garantir os direitos fundamentais à vida de seus cidadãos.
Através de um comunicado, as entidades acusam o governo de abandonar os desabrigados pelo terremoto e de não buscar soluções para os problemas de habitação do país. Milhares de desabrigados ainda vivem em acampamentos provisórios e sofrem de cólera e malária, trazido pelas tropas da Minustah, segundo eles. Homens e mulheres também reclamam da remoção e expulsão dos campos de deslocados. Nos últimos meses o governo haitiano tem promovido o despejoe o fim dos acampamentos, deixando centenas de pessoas sem abrigo.
JORNADA CONTINENTAL DE SOLIDARIEDADE
O objetivo da mobilização é denunciar e conscientizar sobre a situação de interferência estrangeira no Haiti. Tem como objetivo defender a soberania do país e lutar pela reparação dos direitos humanos da população e pela restruturação da economia Haitiana. A mobilização tem caráter libertário e prega a seguinte frase: “O Haiti precisa de solidariedade, não de soldados”.