A ESQUIZOFRENIA DA POLÍTICA BRASILEIRA
Wallace dos Santos de Moraes[1]
Em março de 1964, alguns grupos políticos com clara orientação à direita do espectro político, amplamente financiados pelo grande capital e tendo os meios de comunicação de massa como principais propagandistas de suas ideias, foram para as ruas dar base ao golpe civil-militar que instaurou uma ditadura sangrenta no país por mais de 20 anos. A direita tinha medo das reformas de base anunciadas pelo então governo de João Goulart, que a bem da verdade não seria tão profunda como alguns tentam incutir.
Em 2015, vem acontecendo algo parecido, mas com uma conotação bastante esdrúxula. Desde março vivemos no Brasil uma pseudo histeria coletiva, cujo último capítulo aconteceu no dia 16 de agosto, quando alguns grupos políticos clamaram a população para ir às ruas pedir o impeachment da presidente. Em sua maioria grupos minúsculos de direita, com alguns até fascistas, que sem o apoio do principal aliado-articulador, a Rede Globo de jornalismo (rádio, tv, jornal, internet), não levaria mais que uma centena de pessoas para as ruas. Mas as semelhanças com 1964 param aí. O grande capital não está contra o governo Dilma até porque seu governo favorece cada vez mais aos banqueiros e ao capital especulativo. Ao mesmo tempo, promove concessões enormes aos industriais organizados. O país está em crise não resta dúvida, mas quem paga por ela são os trabalhadores. Os cortes foram fundamentalmente no social e principalmente na educação que volta a agonizar. Para não diminuir lucros, os capitalistas demitem trabalhadores e ganham subvenções do governo.
Por outro lado, e igualmente esdrúxulo, foram os protestos dos governistas em prol do governo Dilma no dia 20 de agosto. Aqui está o verdadeiro nó político que é necessário decifrar. O PT faz um governo para os grandes capitalistas na República presidencialista em que vivemos. O ajuste fiscal foi realizado por ordem do Executivo e é ele o responsável pelos cortes no orçamento da educação e no social. Os petistas e aliados por sua vez vão para as ruas defender o governo do ataque da direita e pedir, quase que por favor para que ele migre para a centro-esquerda. O que esses setores aparentemente não querem compreender é que as políticas adotadas pelos petistas se tratam de clara opção do governo que não implementa um programa diferente porque efetivamente não quer. É fundamental ficar claro que a política econômica unifica tanto o petismo como suas oposições oficiais.
A esquizofrenia portanto se materializa quando a direita vê o fantasma do governo Dilma como de esquerda, quando na verdade implementa exatamente as políticas neoliberais; por outro lado, a militância da esquerda estatista imagina na sua cabeça que o governo Dilma é de esquerda e só governa para a direita porque está pressionada. Essa é a esquizofrenia da política brasileira atual.
Por fim, as moribundas direita e esquerda possuem uma “Psicose em que o doente perde o contato com a realidade, e vive num mundo imaginário que para si próprio criou.”
[1] Prof. do Departamento de Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ. Coordenador do OTAL (Observatório do Trabalho na América Latina): www.otal.ifcs.ufrj.br