OTAL – OBSERVATÓRIO DO TRABALHO NA AMÉRICA LATINA
BOLETIM DO OTAL
Este boletim é uma iniciativa do grupo de pesquisa: “Observatório do Trabalho na América Latina” (OTAL) ligado ao Departamento de Ciência Política da UFRJ. Temos como objetivo principal divulgar as lutas populares, bem como a criação de direitos na América Latina, perscrutando a sua conexão. Assim queremos funcionar como uma mídia independente que a partir dos interesses dxstrabalhadorxs joga luz sobre suas diversas reivindicações com vistas a potencializar uma luta internacional. Também pretendemos produzir material empírico para a elaboração de textos acadêmicos sobre as lutas populares e a situação dos direitos trabalhistas na América Latina.
Em função do forte controle ideológico dos grandes meios de comunicação, que ora estão a serviço do grande capital, ora dos governos ou das oposições oficiais, ou a um amalgama desses,nossas análises não se pautam pelas notícias divulgadas pelos grandes monopólios da comunicação. Destarte, atentaremos contra a sua barreira, que ou não publiciza as greves, os enfrentamentos e diversas reivindicações dos vendedores de força de trabalho na região, ou, quando a faz, busca desqualificá-las.
Portanto, constituem-se como as nossas principais fontes, os diversos sites dos movimentos sociais autônomos da região e, sobretudo, aqueles que estão na linha de frente dasreivindicações.Nossos textos sobre a luta no Brasil serão fruto dos nossos esforços de compreensão do processo autonomamente, em primeira mão.
APRESENTAÇÃO DO QUARTO BOLETIM DO OTAL – OUTUBRO DE 2013
O quarto boletim do OTAL apresenta, como de praxe, algumas das principais lutas populares na América Latina. Privilegiamos os meses de setembro/outubro. Temos notícias de protestos massivos no México, no Brasil, no Peru e na Argentina; e pontuais, na Bolívia e no Uruguai. Esse período caracterizou-se pela reação do capital e das burocracias estatais apoiadas pelos grandes monopólios de comunicação de massa contra as manifestações. Assim, a criminalização da luta está em pleno vigor na região. Os casos de Brasil, México, Uruguai e Colômbia são exemplares. Apesar da forte repressão, da traição de aparelhos partidários eleitoreiros e da campanha de difamação levada a cabo pela grande mídia, os movimentos não pararam e estão se reinventando.
Abrimos o boletim com uma nota de repúdio ao Estado e a sua violência contra manifestantes no Brasil. Nesta fazemos um breve histórico das manifestações. Veremos também que na Argentina, os vendedores de força de trabalho conduziram uma luta incessante contra a multinacional do agronegócio,Monsanto,e todas suas atrocidades contra a natureza. No Uruguai, a população cada vez mais se descontenta com o governo, que no plano do discurso se diz anticapitalista, mas na prática presta veneração ao capital e acoberta as brutalidades da ditadura militar no país.No México, tal como no Brasil, outubro foi o mês de luta dos professores com protestos massivos, mas igualmente reprimidos. Está claro que os detentores do poder preferem financiar o grande capital a investir em educação de qualidade para sua população. No Peru, os trabalhadores lutam contra a perda de direitos.As classes dirigentes não se contentam em explorar os governados, mas querem ampliar a alienação. Na Colômbia, camponeses, indígenas e afrodescendentes lutam fortemente contra o latifúndio, o narcotráfico e o governo, mostrando que a indignação não se resume a luta das guerrilhas, sendo muito mais ampla. Na Bolívia, as ações do governo de Morales, contrariando interesses dos trabalhadores em favor do capital, mostra que não adianta depender de governantes para uma vida autônoma e repleta de dignidade.É necessário o auto-governo, independente de quem ou o quê represente o mandatário.
As praças e as ruas são do povo e cada vez mais isso é uma verdade. O povo está aprendendo que é com luta que se transforma e não com esperanças de representações. Boa leitura, reflexão e ação!
Editor
QUARTO BOLETIM DO OTAL: OUTUBRO/2013
BRASIL – REVOLTA DO VINAGRE 2013
Nota de repúdio contra a detenção de 200 manifestantes seguida de 70 prisões no Rio de Janeiro – pela libertação de todos os presos políticos!
O Grupo de pesquisa “Observatório do Trabalho na América Latina” da UFRJ vem a público rechaçar e demonstrar total descontentamento com as prisões arbitrárias realizadas no último dia 15 de outubro, dia do professor, por conta das manifestações dos profissionais da educação do estado e do município do Rio de Janeiro por melhores condições de salários e de dignidade de trabalho.
As políticas públicas, ou ausência delas, no Estado do Rio de Janeiro tem sido objeto de grande crítica por parte dos seus governados. Escolas com professores absolutamente descontentes com salários, condições de trabalho e falta de um plano de carreira decente, faltando ainda creches e escolas com tempo integral.
Todavia o problema não se encontra apenas na educação.
Os governados reclamam de outras coisas: hospitais públicos precários, faltando profissionais de saúde, em alguns, macas, seringas etc; ausência de uma política de habitação que contemple os moradores com menor poder aquisitivo; grandes regiões do estado sem saneamento básico, tratamento de esgoto, água tratada, enfim, infraestrutura mínima para vivência.
O transporte público no Rio de Janeiro é muito ruim e paradoxalmente um dos mais caros do mundo. Corroborando para tal situação, o valor das passagens de ônibus na capital do estado aumentou desde o plano real, em 1994, mais de 850%, enquanto a inflação no mesmo período não passou de 350 %, favorecendo aos seus poucos proprietários. Estes, aliás, compõem um dos grupos que mais financiam as campanhas eleitorais dos políticos brasileiros.
No âmbito da segurança pública, muitas pesquisas mostraram que existe em curso um processo de extermínio da população pobre atingindo principalmente negros das favelas e das periferias levado a cabo por agentes do Estado.
Em resumo, os governos não conseguiram dar conta do básico: saúde, educação, transporte, habitação, saneamento e segurança.
Com todas essas ausências, a população viu o governo gastar mais de um bilhão para reformar o Maracanã e, pior, depois, privatizá-lo. Ao mesmo tempo, foram feitas várias remoções de comunidades para atender a anseios especulativos imobiliários. A região do maracanã foi praticamente ultrajada.
A população se rebelou.
No protesto do dia 17 de junho foram para as ruas mais de 400 mil pessoas. Na mesma semana, no dia 20, foram mais de 2 milhões de pessoas protestar contra todas essas questões. Nesse dia as pessoas foram expulsas do protesto sob bombas e balas de borracha. O povo acordou (!), como diziam vários cartazes. Nesse período as manifestações ocorreram em todo o Brasil.
Desde então a repressão tem sido intensa tanto na parte física quanto no plano das ideias. Foram vários vídeos mostrando policiais infiltrados jogando coquetéis molotovs sobre os próprios colegas para justificar a repressão maior sobre os manifestantes. Simultaneamente, os grandes monopólios de comunicação no país levaram a cabo uma grande política de desinformação e deturpação das notícias com vistas claras de desacreditar e legitimar a criminalização da rebeldia do movimento social popular. Tal como aconteceu nos anos que precederam e durante a ditadura civil-militar no Brasil, quando os monopólios de comunicação do país a apoiaram com todo fervor.
Foram centenas de insurgentes detidos desde o início dos protestos. Alguns foram feitos presos políticos em presídios comuns.
No último dia 15 de outubro, dia do professor, mais de 50 mil pessoas foram para as ruas protestar em defesa de uma educação de qualidade. O SEPE fez um acordo com a polícia e resolveu retirar seus militantes e carros de som exatamente as 20:00h. Ficaram ainda umas 8 mil pessoas na Cinelândia que cantavam e se confraternizavam, sem ter atacado nada. Quando alguns grupos resolveram ir embora a ação da polícia foi desproporcional com bombas, balas de borracha e até munições letais. Foram vários disparos e alguns feridos. Houve enfrentamento desproporcional. Depois de dispersar a multidão e caçá-los como bandidos pelas ruas do Centro da cidade e bairros próximos, a polícia cercou um grupo de 200 manifestantes e os levou presos. Todos estavam nas escadarias da Câmara municipal, sem praticar nenhum ato ilegal, a não ser que consideremos protestar contra governos ato ilegal. Nessa mesma noite todas as barracas dos manifestantes do ocupa câmara foram destruídas por agentes do Estado.
O “Observatório do Trabalho na América Latina” (OTAL/UFRJ) rechaça veementemente a postura dos governos e de suas forças de repressão, bem como o papel exercido pelos monopólios da comunicação que acobertam e defendem a criminalização dos movimentos sociais que se rebelam por motivos justos. Também nos solidarizamos com todos os verdadeiros lutadores do povo que põem em risco suas vidas em prol de uma sociedade justa, igualitária, com liberdade, e sem hierarquias. Não toleraremos uma nova ditadura, mesmo que seja chamada de democracia!Pela liberdade de todos os presos políticos!
ARGENTINA – Manifestantesbloqueiam Monsanto
Eduardo Matos
Desde 18 de setembro, ativistas mantém corajosamente um bloqueio contra a instalação da fábrica de sementes Monsanto, no município de Malvinas Argentinas, província de Córdoba. Diferentes grupos, dentre eles, ambientalistas, membros do grupo Malvinas Lucha por la Vida e militantes políticos impedem a passagem de caminhões com materiais, dessa maneira, dificultando o andamento das obras.
Mesmo com o anúncio de suspensão das obras por parte da empresa, ocorreram diversos momentos de tensão. No dia 26 de setembro delegados do sindicato -UOCRA- se reuniram com os trabalhadores e informaram que haveria demissões caso a obra não pudesse prosseguir. Na presença de grande efetivo da polícia e não havendo nenhuma ordem para desocupar o bloqueio, foram os trabalhadores e não a polícia que tentaram desfazer o acampamento e retirar os manifestantes. A cada bloqueio feito, a empresa abria um novo portão, chegando a formar até cinco bloqueios nas diversas entradas. No dia 30 de setembro, a polícia reprimiu os manifestantes e tentou sem sucesso retirar o bloqueio. Uma pessoa ficou ferida na cabeça e foi hospitalizada, outros militantes foram detidos.
Enquanto isso, na Capital da província, dia 8 de outubro aconteceu uma grande manifestação reunindo pelo menos 10 mil pessoas,exigindo dentre outras questões, a não instalação da Monsanto. Feiras, seminários e outras formas de manifestação foram organizadas durante o mês de outubro, principalmente, no dia 12,em referência a chegada de Colombo à América, a luta dos povos nativos e a preservação da terra.
Em Buenos Aires começou a partir do dia 21 um acampamento em frente ao congresso nacional. Os manifestantes ficarão por tempo indeterminado, apoiando a luta dos ativistas em Córdoba.
Monsanto é a maior corporação de Agronegócio do mundo, domina 27% do mercado total de sementes, e 86% do mercado de sementes especificamente transgênicas. As técnicas empregadas na produção de suas sementes são danosas ao meio ambiente e enfraquecem a capacidade dos pequenos agricultores. As substâncias que serão utilizadas na produção de sementes na Argentina já são proibidas na Europa.
Leia mais em:
http://www.pagina12.com.ar/diario/sociedad/3-231862-2013-10-23.html
http://www.pagina12.com.ar/diario/sociedad/3-229370-2013-09-19.html
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=175919
MÉXICO – Protestos contra a Reforma da Educação são duramente reprimidos no México e ainsurgência popular autonomista ganha novos tons no estado de Michoacán.
Anizio Lobo
No dia 13 de setembro de 2013, as vésperas da data de comemoração da independência mexicana (dia 16 de setembro) a Praça de Zócalo, até então tomada por milhares de professores em protesto contra a política de educação do governo Peña Neto, se transforma numa praça de guerra. Irônica e tragicamente o monumento em memória à independência do país foi testemunha de uma barbárie promovida pelo próprio governo: o emprego desmedido da força policial e militar do Estado contra professores que se encontravam acampados em protesto contra as arbitrariedades do governo neoliberal e em favor de uma educação laica, gratuita, de qualidade e que valorize seu profissional. Os absurdos da ação do Estado mexicano são visíveis através dos números finais de tal ação – segundo os serviços médicos da Coordenadoria Nacional de Trabalhadores da Educação (órgão de classe que organizou e mobilizou os professores nesta campanha) cerca de 200 professores foram atendidos com ferimentos, alguns graves, causados pelo uso de bala de borracha e cassetetes pelos agentes repressores do Estado. Algumas dezenas de pessoas foram detidas, fichada e, algumas delas, liberadas logo em seguida. Ao longo do mês de setembro, diversos registros de abuso policial foram divulgados pela internet e meios de comunicação alternativos – como o caso do policial que agrediu brutalmente com seu capacete um grupo estudantes já rendidos que apoiavam a mobilização de seus professores, além da foto de um policial posando, aparentemente satisfeito com seu serviço, em frente aos restos do acampamento dos professores que ele junto com seus companheiros acabara de destruir na Praça Zócalo. Logo após a expulsão de milhares de professores e estudantes da Praça Zócalo, o local foi sitiado por uma vasta barreira policial e militar, garantindo, ironicamente, em 16 de setembro a execução das formalidades presidenciais em comemoração aos 203 anos da luta mexicana contra a opressão do colonialismo espanhol.
A mesma polícia que reprimiu violentamente a mobilização de professores e estudantes não apenas na capital mexicana, mas em todo território nacional, foi a polícia corrupta incapaz de garantir aos trabalhadores do município de Aquila o usufruto pleno de valores como justiça e democracia. Acontece que a população de Aquila, no estado de Michoacán, se revoltou contra a omissão do Estado com relação aos abusos cometidos por grupos de narcotraficantes ou de extração ilegal de minério da região. E em meados do fim de agosto se mobilizou e criou na localidade mais um foco de milícia de autodefesa comunitária, tomando para si um caráter potencialmente autônomo com relação à estrutura do judiciário mexicano. O chefe do executivo local não se encontra mais despachando na cidade. Agentes da Polícia Federal e do Exército chegaram a ser enviados à localidade para acompanhar a situação, mas logo o governo se cansou do “mise-en-scène” e retirou suas tropas de jogo. E digo jogo porque a Ternium, a mineradora “legal” que operava na região utilizando-se dos serviços de “los comuneros” e contribuindo para a receita do povoado, simplesmente interrompeu suas operações e cancelou todos os contratos com “los comuneros” de Aquila. Desta forma a comuna organizada por aquela população é enfraquecida e possivelmente desmobilizada. Acontece também que essa mesma mineradora, segundo os locais, oferece apoio logístico aos trabalhos de extração ilegal de ferro na região – que por sua vez possuem relações bastante estreitas com o narcotráfico local.
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EQUADOR – Reforma do Código Penal sinaliza retrocesso nos direitos da mulher
Anizio Lobo
Desde o final do mês de setembro a Assembleia Nacional do Equador tem discutido a reforma do Código Penal deste país. O ponto de maior polêmica do novo código trata-se do agravamento na criminalização do aborto, com a mudança da penalidade de 1 à 3 anos para 1 à 5 anos de reclusão para o médico e a paciente que forem flagrados em procedimento de aborto. Diversas entidades de defesa dos direitos da mulher reagiram à proposta de reforma penal. Dentre essas entidades está a Frente Equatoriana Pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos, que já havia entrado com proposta de lei de descriminalização absoluta ou parcial do aborto na mesma assembleia. O projeto de descriminalização do aborto apresentado pela Frente Equatoriana Pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos respaldou-se em índices que demonstram que 64% da população equatoriana é favorável ao aborto em casos onde a gestação fora resultado de violência sexual. Embora um pequeno setor do legislativo nacional seja a favor da descriminalização do aborto, o executivo nacional “progressista”, apresentando total coerência com o pensamento das elites políticas e religiosas mais reacionárias, descartou qualquer possibilidade de sanção de algum projeto com essa natureza libertária e favorável aos direitos da mulher pelo presidente Corrêa.
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http://www.resumenlatinoamericano.org/?p=910
PERU – Central Sindical peruana promove ato contra reforma trabalhista neoliberal
Anizio Lobo
Cerca de 40 grêmios de trabalhadores foram convocados para o ato seguido de paralisação promovido pela Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru no último dia 26. Trechos da Panamericana Sul e da rodovia que liga Lima à Ayacucho (principais vias de escoamento de cargas do país) ficaram interrompidos por horas. Devido à suspensão do serviço de trens, acredita-se que mais de 2mil turistas tenham deixado de visitar a cidade inca de Machu Picchu, o principal ponto turístico do país andino. Obviamente as manifestações foram fortemente reprimidas por grande aparato policial, embora não tenha havido registros oficiais de detenção.
Enquanto a mídia corporativista se preocupava em destacar a suposta violência empregada pelos trabalhadores durante o ato e a frustração de milhares de turistas que não puderam visitar a cidade inca de Machu Picchu, a CGTP (Central Geral de Trabalhadores do Peru) destacou o sucesso da campanha ao conseguir chamar a atenção popular para a sua maior reivindicação: a interrupção da violência contra a dignidade dos trabalhadores promovida pelas reformas trabalhistas do governo Humala.
Demonstrando insensibilidade com relação às reivindicações populares, além de pouco apreço pela democracia tonificada pela voz popular, a Ministra do Trabalho Nancy Laos teria afirmado que as mobilizações contra as políticas trabalhistas da gestão Humala não passam de manobra da oposição oficial. Porém, mesmo sob as fortes tentativas de desqualificação da campanha, novos atos deverão ser marcados com a expectativa de mobilizar um número ainda maior de trabalhadores.
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http://www.resumenlatinoamericano.org/?p=681
URUGUAI – Caça as bruxas no Uruguai
Guilherme Moreira
Assim como vimos no Brasil em setembro desse ano, no Uruguai tem ocorrido perseguição e prisão de manifestantes. Sete ativistas foram presos, sem contar as escutas, perseguições, tentativas de despejos e ataques a eles em Montevidéu.
Os manifestantes foram presos após protestarem em frente à Suprema Corte de Justiça.A manifestação ocorria sem incidentes graves ou “vandalismo”, como a imprensa brasileira gosta de dizer. O protesto aconteceu porque a juíza que investigava o caso sobre pessoas desaparecidas na ditadura foi retirada do cargo pelo presidente Mujicapor pressão dos militares.O “erro’ da magistrado foi identificar os acusados.
A tática de incriminar manifestantes para esvaziar o movimento me parece clara nesse contexto uruguaio tal como ocorre no Rio de Janeiro,onde os manifestantes que aderiram à tática Black Blocforam presos por administrarem uma página no Facebooksob alegações diversas e duvidosas. Assim, tanto no Brasil quanto no Uruguai, manifestantes preferem se ausentar das manifestações com medo de serem presos.Ouro aspecto comum é o papel exercido pela grande mídia,pois trata de incriminar manifestantes, ignorando o ideal político presente nos atos desses insurgentes. Estes são apenas chamados de vândalos sem nenhuma possibilidade de defesa.
Pode parecer estranho ler uma notícia dessa vinda do Uruguai, país que é marcado por ter um presidente que se diz de esquerda e anticapitalista, mas que na hora de pôr isso em prática capitula diante dos desejos do capital. Mujica fez recentemente um discurso na ONU se dizendo anticapitalista, mas quando alguma instituição do capitalismo é posta em risco, rapidamente o presidente utiliza de todos os meios para defendê-la. Cabe lembrar também da ditadura civil-militar que assolou o país durante anos, mas o presidente preferiu não fazer justiça diante das atrocidades militares.
COLÔMBIA – O protagonismo do movimento campesino no combate às políticas neoliberais.
Lucas Bártolo
Após o primeiro mês de Paralisação Agrária Nacional e Popular, iniciada no dia 16 de agosto, o governo de Santos se manifestou de outra forma que não a força repressiva. A resposta aos movimentos sociais colombianos foi dada, no entanto, de forma não menos ofensiva: O Pacto Nacional Agrário. Forjado a partir de um encontro entre o presidente Santos, burocratas e de supostos camponeses, o acordo não apresenta nenhuma proposta capaz de alterar a realidade da vida no campo, que apresenta graves problemas estruturais. Pelo contrário, as medidas são tentativas de contornar a Paralisação, garantindo a hegemonia latifundiária. A proposta não se fez eficaz em seu objetivo: conter os movimentos sociais. No mesmo dia da reunião governista, 12/09, cerca de três mil membros das organizações participantes da Paralisação do Campo se reuniram em Bogotá para a Grande Cúpula Camponesa e Popular. No encontro, fora reforçada a pauta de reivindicação do movimento, além de garantir a coesão dos grupos manifestantes.Rechaçando integralmente as propostas do pacto formulado pelo governo, os camponeses reivindicam a reforma agrária, a mudança de leis que sustentam a apropriação indevida de terra e mantêm-se contrários a qualquer pacto com o empresariado. Exigem também a redução dos preços dos insumos agropecuários, entre outras medidas básicas para um desenvolvimento horizontal do trabalho rural.
O latifúndio concentra a maior parte das terras cultiváveis.As minorias indígenas e afros lutam junto aos camponeses pelo reconhecimento de seus territórios.Além dos trabalhadores rurais e minorias étnicas, professores e profissionais da saúde protagonizaram as manifestações neste mês de setembro, promovendo novas paralisações e reivindicando seus direitos trabalhistas e melhorias nos sistemas de educação e saúde, além de repudiarem a entrega desses dois setores nas mãos das empresas estrangeiras. Nota-se que, embora o governo apresente propostas ao campesinato, o acordo de livre-comércio mantem-se intacto, confirmando a posição do Estado colombiano ao lado dos latifundiários, pecuaristas e das empresas transnacionais.
A Cúpula denuncia também os abusos e violações aos direitos humanos cometidos pelas tropas do Estado. Foram 12 mortes, centenas de agressões, 4 desaparecidos e 262 prisões arbitrárias. Registra-se também perseguições e ameaças aos manifestantes e também aos agricultores que usam sementes próprias na produção, numa clara defesa ao monopólio global das multinacionais sementeiras.
A grande imprensa,a fim de deslegitimar, de alguma forma, os movimentos sociais, noticia que as FARC estão infiltradas nas manifestações. Vale lembra que o grupo guerrilheiro está negociando um acordo de paz com as autoridades colombianas e manifestam apoio aos movimentos campesinos. Neste período de transição, onde as FARC reivindicam participação política e, embora alguns confrontos ainda ocorram, adotam uma postura menos combativa no atual momento. Os movimentos sociais, sobretudo camponeses, cada vez mais radicalizam o discurso e assumem o papel de liderança no combate às políticas neoliberais características do Estado colombiano. Uma nova Cúpula Camponesa e Popular está marcada para o mês de outubro.
Lei mais em:
http://colombiasoberanalavozdelosoprimidos.blogspot.com.br
http://www.marchapatriotica.org/
BOLÍVIA
Karen Barrientos
Resumo da conjuntura política:
A atual situação dos trabalhadores na Bolívia está avançando para uma separação com o governo do MAS (Movimiento al Socialismo) de Evo Morales. Desde a posse do presidente, em 2006, tem havido constantes demonstrações de que o governo está se afastando da proposta revolucionária inicial de satisfazer aos interesses dos trabalhadores e povos indígenas e se aliando aos interesses das classes dirigentes.
Após o início de seu mandato, já foram contabilizados vários protestos contra empresas e contra o próprio governo, nos quais os manifestantes foram reprimidos duramente pela polícia por estarem reivindicando direitos trabalhistas e melhores condições de salários. Participaram de algumas destas manifestações grupos indígenas que também foram atacados pelo aparato repressor do Estado.
Tal conjuntura influenciou na indignação dos trabalhadores frente ao governo de Morales, pois está claro que o presidente quer equilibrar interesses de patrões e empregados, e parece ter esquecido que foi eleito pela parte da população que é justamente a qual ele tem se voltando contra. Nesse contexto, a situação atual em que estão vivendo os trabalhadores é de insatisfação e revolta, com constantes greves e protestos em vários distritos do país.
Criação do Partido dos Trabalhadores:
No início de Março foi criado o Partido dos Trabalhadores, que surge como uma oposição ao MAS. Ainda com um programa indefinido, o PT pretende se firmar como um partido livre da burocracia e inteiramente voltado para atender aos interesses trabalhistas.
Outubro reacende os levantes de maio:
Na segunda semana de outubro ocorreram vários dias de greve e de bloqueios nas principais estradas em sete regiões bolivianas. Em Huanuni, onde se localiza a maior mina de estanho do país, os trabalhadores associados à COB (Central Obrera Boliviana) bloquearam a estrada que liga Oruro a Potosí, reivindicando aumento nas aposentadorias dos mineiros. Os mesmos levantes já haviam movimentado o país no mês de maio e, no entanto, os trabalhadores ainda continuam sem respostas satisfatórias do governo, que alega que um aumento de salários e aposentadorias levaria à quebra do sistema econômico.
Esta manifestação de Huanuni reuniu em torno de três mil mineiros, dentre os quais mais de cem foram detidos pela polícia e pelo menos cinco ficaram feridos durante o confronto que ocorreu entre os manifestantes e o aparato repressor.
Paralelo a estes acontecimentos, vêm ocorrendo no país uma série de paralisações, greves e bloqueios de estradas por parte da população. A insatisfação deriva dos resultados do “Censo Nacional de Población y Vivienda 2012”, no qual parece haver distorções no resultado demográfico dos dados.
Com base nestes resultados, a “Lei de Redistribuição de Cadeiras entre Departamentos” foi aprovada dia 7, o que significa que os departamentos de Chuquisaca, Beni e Potosí perderam uma cadeira cada, na Assembléia Legislativa, devido ao decréscimo no total de habitantes, enquanto que o departamento de Santa Cruz ganhou estas três cadeiras.
Em conseqüência, Evo Morales foi declarado inimigo no departamento de Beni. Tal revolta se dá não só pela perda da cadeira no parlamento como também pela recusa aos dados do Censo e de qualquer projeto que leve em consideração estes dados. Segundo representantes das organizações grevistas, os resultados do Censo seriam uma estratégia política.
Outra notícia em foco na Bolívia diz respeito a uma nova lei para os trabalhadores. Trata-se do novo decreto sobre empresas falidas, sancionado dia 8. Segundo esta lei (Decreto Supremo 1754), empresas que entrarem em processo de quebra, ou que forem abandonadas, podem ser controladas pelos próprios trabalhadores, criando-se a partir daí, empresas sociais. Segundo o presidente Evo Morales, o decreto beneficia os empregados, pois estes não terão mais que se submeter às ameaças dos patrões de serem despedidos caso a empresa venha a falir se forem concedidos aumentos salariais, pois caso isso ocorra, é o próprio trabalhador que será responsável pela direção empresarial.
Leia mais em:
http://www.jornadanet.com/n.php?a=95079-1
http://www.paginasiete.bo/nacional/2013/10/9/promulgo-quita-escanos-regiones-pais-2656.html
http://www.la-razon.com/economia/Norma-trabajadores-administrar-empresas-quebradas_0_1921007928.html