As reais diferenças entre o Black Bloc e o PSTU

As reais diferenças entre o Black Bloc e o PSTU   Advertência: este texto foi publicado no site da revista Caros Amigos em 05/11/2013 em resposta a um artigo de uma militante do SEPE-RJ, dirigente do PSTU. Wallace dos Santos de Moraes[1]   Em março de 1794, durante a Revolução Francesa, Robespierre e seus liderados autoproclamados revolucionários de esquerda, do alto do Estado, orientaram suas políticas para abater a oposição que queria o aprofundamento da revolução. Eles enviaram ao cadafalso os homens da Comuna, os Enragés, aqueles que o girondino Brissot denominava de modo pejorativo por: anarquistas.[2] Mais de um século depois, no decorrer da consolidação da Revolução Russa de 1917, os bolcheviques, com sua ditadura do proletariado, seu aparato estatal centralista, perseguiram, prenderam e exterminaram os que queriam o aprofundamento da Revolução. Neste contingente encontravam-se significativo número de anarquistas. Estes não queriam ser governados por qualquer pessoa e defendiam a liberdade, a igualdade e acreditavam no coletivo com toda sua força, negando o Estado, as hierarquias sociais e os autoritarismos. Arthur Lehning (2004) e Rudolf Rocker (2007) descrevem com detalhes as prisões e o aniquilamento de todas as correntes revolucionários pelos bolcheviques a partir de abril de 1918. Entre os quais, encontram-se o movimento guerrilheiro rural, organizado por Néstor Makhno, que lutou incessantemente contra as forças de ocupação austro-alemãs e contra os exércitos russos contra-revolucionários na Ucrânia. Em todos os territórios libertos nasciam comunas rurais e sovietes. O governo se aliou aos guerrilheiros até a derrota completa da contrarrevolução. Entretanto, depois de não haver mais perigo para o poder e vendo a força do movimento autônomo que não queria se subordinar aos ditames da ditadura do proletariado, Trotsky, comandante do exército vermelho, ordenou o aniquilamento dos guerrilheiros e terminou por destruir o movimento anarquista na região. Outro caso emblemático foi o de Kronstadt. Em 1917, os marinheiros da base naval de mesmo nome criaram uma Comuna e lutaram fervorosamente a favor da revolução. Praticamente no mesmo período da queda dos anarquistas na Ucrânia, em março de 1921, os marinheiros se rebeleram contra a ditadura do partido único exigindo sovietes independentes. Trotsky novamente ordenou a destruição dos insurretos. A matança de Kronstadt significou o fim dos conselhos autônomos na Rússia (Lehning, 2004). Em todas as situações supracitadas os insurgentes que não queriam se subordinar aos ditames dos ditadores foram acusados e difamados como agentes da reação, seja com a...
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LIBERDADE PARA TODOS OS PRESOS POLÍTICOS!

Enquanto vários militantes do Black Bloc foram presos, o governador Sergio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e os demais nobres deputados e vereadores continuam circulando livremente na cidade. Agora o governo Cabral não só continua a ter uma enorme rejeição junto à população, mas também conta com presos políticos, que foram levados para os excelentes complexos presidiários do Rio de Janeiro. Lá eles serão reformados e talvez saiam acreditando que todo político é honesto. A grande mídia já vinha preparando a opinião pública para aceitar a reação do Estado. Nos jornais, nas rádios e nas televisões defendia-se abertamente uma ação drástica contra os componentes do Black Bloc, também chamados de vândalos. Com efeito, cabe uma reflexão histórica mais ampla para constatarmos como a tragédia se repete. Na década de 1960, mais precisamente, em 1963, os principais donos de jornais (O Globo, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e outros), juntos com empresários, intelectuais e militares com apoio da CIA (Agencia de Inteligência Americana) criaram o IPES (Instituto de pesquisa e Estudos Sociais). Seu principal objetivo, segundo Renê Dreiffus no livro “A Conquista do Estado”, era preparar a opinião pública para aceitar e até reivindicar o golpe militar e o governo subsequente. De acordo com essa excelente pesquisa, as notícias foram preparadas para se criar um consenso em favor do golpe militar e a ditadura civil-militar que se instalaria logo após. Em 2013, exatamente 50 anos depois, a grande mídia, trabalha para criar um novo consenso contra as ações políticas. O alvo não é mais os comunistas, como em 1964, pois, inclusive, muitos estão no governo, mas contra o Black Bloc, os homens de preto, os anarquistas, os vândalos. Todos sabiam que isso aconteceria, pois vivemos em um estado policial. E foi exatamente por isso que eles andavam mascarados e procuravam não se identificar, todavia a tecnologia atual, junto com os infiltrados das forças de repressão no movimento, além da denúncia de sindicalistas governistas e paragovernistas, fez com que seus componentes fossem identificados. Resultado: presos políticos em 2013. Enfim, os grandes eventos que impulsionaram as remoções de pessoas das favelas e periferias, bem como gastos exorbitantes com estádios de futebol, em meio à ausência de investimento em saúde e educação, são as justificativas esdrúxulas para as prisões políticas no Brasil.Tudo isso acontece um ano antes da Copa do Mundo e três anos antes das Olimpíadas no Brasil. Ficará...
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O que vale mais para a grande mídia: a vida de um pobre ou o vidro de um banco?

Na noite do dia 17 de julho de 2013, mais de cinco mil pessoas participaram de um protesto nas proximidades da casa do governador do Rio de Janeiro, por vários motivos, aliás, motivos não faltam para protestar contra o governador. Como em praticamente todas as outras manifestações, houve confronto entre polícia e manifestantes. A cobertura da mídia foi uníssona: a polícia que atirou balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio foi a vítima!!! Diferente das outras manifestações, a polícia não reprimiu o ato de imediato. Afinal de contas era o Leblon, bairro da alta elite carioca. O cheiro do gás lacrimogênio poderia entrar nos apartamentos e atrapalhar a respiração dos donos do capital. Todos sabiam disso. Manifestantes e policiais. Para criar o fato político, pela primeira vez, os manifestantes iniciaram os tumultos. Não sabemos se foram os infiltrados, mas iniciaram. Mas agora gostaria de abordar a cobertura da mídia nos dias que seguiram a manifestação, por ser muito mais grave que qualquer depredação de bancos. Vamos a uma tentativa de análise. Os monopólios fascistas de televisão unidos fizeram grandes produções cinematográficas, dignas de Hollywood, com um único objetivo: criminalizar o movimento popular combativo, defender os governantes de plantão, legitimando previamente o fascismo, que já acontece nas favelas e nas periferias do Brasil cotidianamente, destinado aos que lutam. Assim, a Rede Globo ganha mais apoio para continuar sonegando impostos. Esse monopólio chegou a colocar imagens dos manifestantes quebrando bancos e lojas de luxo, repetidamente, inclusive sem som, sem comentários, apenas as imagens. Foi chocante. Fui induzido fortemente a rechaçar os manifestantes. Fui induzido a ter ódio da juventude que luta. Fui induzido a querer a prisão imediata da juventude pobre. Fui induzido até a defender a pena de morte de todos aqueles. As imagens da forma como foram postas pareciam crimes hediondos, equiparavam-se a homicídios dolosos. Não obstante, tenho discernimento suficiente para separar homicídio doloso de quebra de bancos e o saque de lojas de roupa de luxo da Toulon. Todos sabemos que os bancos atacados constituem-se nas instituições mais beneficiadas no capitalismo contemporâneo, as custas do desemprego, da exploração do trabalho, e do roubo das taxas que todos somos obrigados, por lei, a pagar. O circo armado foi tamanho que a grande mídia colocou o dono da rede nacional de lojas Toulon chorando na televisão, tomando o cuidado para não mostrar qual era a loja. A grande mídia não...
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21 MOTIVOS PARA IR ÀS RUAS E LUTAR – Ordem e desordem na luta pelo passe livre

Wallace Moraes – Durante o levante popular de junho de 2013 no Brasil Vejamos o que é considerado ordem e desordem na luta pelo passe livre no Brasil: 1)      O preço das passagens de ônibus na cidade do Rio de Janeiro em 1994, quando da criação do plano real, era de R$ 0,30. Hoje, o preço é de R$ 2,95. Um aumento de quase 900%. O salário de quem aumentou nesse nível? Isto é ordem! 2)      A inflação acumulada do período, dependendo do índice, gira em média em 320%, enquanto o aumento das passagens gira em torno de 900%. Isto é ordem! 3)      O Transporte público é uma concessão estatal e pouquíssimas empresas possuem o seu monopólio. Isto é ordem! 4)      Se um cidadão comum quiser comprar uma van e tentar fazer o transporte de pessoas por um preço muito menor que o praticado pelos ônibus, ou a qualquer preço, será impedido pelo Estado, sob pena de ter o seu automóvel apreendido e pagar pesada multa. Isto é ordem! 5)      Os mesmos que defenderam o fim dos monopólios das empresas públicas (estatais) sob a alegação de que constituíam monopólio não falam uma única palavra contra o cartel das empresas de ônibus. O liberalismo deles só serve para as estatais? Monopólio privado pode existir sem problemas? Não constitui obstáculo para o livre mercado? Isto é ordem! 6)      A polícia reprime os manifestantes, prendendo-os e tacando bombas, impedindo-os de mostrar sua indignação contra o aumento do valor das passagens. Isto é ordem. 7)      O transporte público é de má qualidade. As empresas colocam poucos ônibus para circular com vistas a aumentar seus lucros. Por consequência os passageiros andam em pé e amassados. Isto é ordem! 8)      Os salários dos motoristas e cobradores não aumentaram nos mesmos patamares que o preço das passagens. Isto é ordem! 9)      A maior parte das empresas demitiu os conhecidos cobradores. Assim, além de colaborar para o desemprego dessa categoria, impôs ao motorista uma dupla jornada, pois tem que dirigir e cobrar o dinheiro dos passageiros. Resultado: mais cansaço e mais perigo para os usuários. Isto é ordem! 10)   Como resultado da quase extinção dos cobradores, as empresas diminuíram seus gastos com pessoal, mas essa diminuição de custos não foi repassada para os passageiros em forma da diminuição do valor das passagens. Isto é ordem! 11)   O governo do estado ajuda as empresas de ônibus, repassando diretamente...
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CHAVISMO E BRIZOLISMO – DEPENDÊNCIA OU EMANCIPAÇÃO SOCIAL?

CHAVISMO E BRIZOLISMO – DEPENDÊNCIA OU EMANCIPAÇÃO SOCIAL? – uma homenagem ao dia do trabalhador Wallace dos Santos de Moraes[1] Para que os brasileiros melhor entendam o significado do chavismo na Venezuela, requer que façamos algumas comparações com alguns políticos do Brasil, com as devidas ressalvas. A Venezuela de 1998, quando Hugo Chávez ganha as eleições, se parece muito com a situação política brasileira de 1989. Em ambas as situações há fortes disputas político-ideológicas acerca de projetos para o país. Neste ano, no Brasil, tínhamos principalmente três projetos; um foi o vencedor, de Fernando Collor de Mello, representando o neoliberalismo. No outro polo, tínhamos dois candidatos da esquerda: um era do PT de Lula, com forte base nos segmentos organizados dos trabalhadores do campo e da cidade, fundado, sobretudo, em pequenas e médias organizações com orientações reformistas e socialistas. Em resumo, o PT apresentava-se com certa similaridade aos partidos social-democratas europeus, baseado no apoio do trabalho organizado. Outra representação da esquerda estava na candidatura de Leonel Brizola, do PDT. Diferente daquela, o candidato, tal como Chávez, era mais forte do que o partido e não estava amparado em movimentos sociais organizados nos moldes clássicos europeus, mas em movimentos de bairros populares, favelas e trabalhadores informais. A base social de ambos era formada pelos mais pobres. No caso de Brizola, principalmente de dois estados: Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro – onde fora governador. As candidaturas eram sustentadasfortemente pelo carisma político. Brizola e Chávez não tinham grande apoio intelectual, nem na Academia brasileira, nem nos grandes meios de comunicação. Também não tinham apoio dos sindicatos tradicionais de trabalhadores. Seus discursos continham grande teor nacionalista e socialista; simultaneamente, atacaram os grandes meios de comunicação, o imperialismo dos EUA e a exploração das elites predatórias. Todas as suas ações giraram em torno de seus personalismos. Surgiram, portanto, o brizolismo e o chavismo. Suas políticas, enquanto governador dos supracitados estados, no caso de Brizola, e como presidente da Venezuela, no caso de Chávez, foram muito sedutoras para os pobres. Fez grandioso investimento em educação e políticas sociais.Ambos foram os políticos que mais construíram escolas nosdois países. Não obstante, tiveram atritos constantes com os sindicatos dos trabalhadores em educação e, ao mesmo tempo, não hesitaram em reprimir os movimentos sociais mais radicalizados e anticapitalistas. A elite brasileira, em particular, a carioca, detestava Brizola. Por outro lado, era idolatrado nos lugares com maior...
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Entrevista para jornal da UNESP

  Abaixo os links das entrevistas a Wallace Moraes sobre As Eleições na Venezuela http://www.mundodigital.unesp.br/webjornalnovo/21/04/2013/entrevista-renata-peixoto-de-oliveira/ Segue o link da matéria:...
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O LEGADO DE HUGO CHÁVEZ E OS LIMITES DA ALTERNATIVA INSTITUCIONAL

O LEGADO DE HUGO CHÁVEZ E OS LIMITES DA ALTERNATIVA INSTITUCIONAL Wallace dos Santos de Moraes[1] Chávez foi um homem de muita coragem. Raríssimo nos nossos dias. Ganhou as eleições com um partido nanico e obteve a maior votação da história do país. Amparou-se na esquerda institucional e enfrentou diversos interesses na Venezuela e no mundo. Sempre de peito aberto, encarou quem quer que fosse. Até o temido Georg W. Bush, em meio a Assembleia da ONU, foi chamado de evil por Chávez. Criticou também Obama por continuar a política externa de seu antecessor. Encarou o Rei da Espanha, cuja família real apoiou o fascismo de Franco. Ao criticar o neoliberalismo, as guerras, o colonialismo, criou tantos inimigos poderosos e os enfrentou de cara a cara que morreu prematuramente, aos 58 anos. Chávez foi um homem digno, honesto e colocou a pequena Venezuela no centro do cenário internacional, ditando normas e criando modelos. Indubitavelmente entrará para a história. Para colocar o legado de Chávez no seu lugar é necessário combater algumas teses que não se sustentam. A primeira é propalada por alguns grandes meios de comunicação que teimam em chamá-lo de ditador para baixo e induzir a entendermos que existe uma grande massa de venezuelanos contra o seu governo. Trata-se de conjecturas insustentáveis do ponto de vista factual. O governo Chávez foi o que mais respeitou a Constituição do país e a ampla maioria da população esteve ao seu lado. A segunda tese é defendida pelos chavistas quando afirmam estar em curso na Venezuela uma revolução que seria responsável por estabelecer o “socialismo do século XXI”. Com efeito, de antemão afirmamos que o governo de Chávez não acabou com o capitalismo, nem proporcionou o autogoverno popular. Destarte, não tocou nos principais aspectos da exploração e do absurdo de ser governado por outrem. Assim, já podemos descartar as alusões ao socialismo ou ao poder popular ditas por seus defensores. A Venezuela continua capitalista e com uns governando outros. Seu grande feito, portanto, baseou-se na sua luta bastante exitosa contra o neoliberalismo. Mas dada a existência maciça de governos neoliberais no mundo, bem como do recuo das perspectivas socialistas, sua luta apresenta-se similar a uma luta revolucionária. Feitas essas importantes ressalvas, analisemos o governo de Chávez como fazem os analistas de plantão, bem pagos pela mídia, amarrados pela camisa de força da institucionalidade capitalista. Todavia adiantamos que nossas conclusões serão absolutamente diferentes daquelas....
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A GREVE TRAÍDA DE 2012

  – a subordinação da luta direta econômica em favor da democracia minimalista burguesa Wallace dos Santos de Moraes[1] – setembro de 2012[2] Durante a década de 1980 no Brasil, o fim da ditadura civil-militar formal, a volta do irmão do Henfil e de muitos exilados lutadores fez reacender a esperança de um país menos desigual. Embalados por tal esperança, os trabalhadores se organizaram em partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais dos mais diversos. A luta por dias melhores era a tônica. A criticidade do rock nacional e de alguns sambas de roda ditavam o ritmo das reivindicações. Em resumo, tratava-se de um momento de extrema efervescência, cuja ação coletiva era a principal arma. A greve fora o mais importante instrumento dos trabalhadores para garantia de direitos, salários, sempre buscando repartir o bolo do crescimento econômico em condições menos desiguais. Em 1988, por exemplo, 1516 categorias, segundo o IBGE, fizeram greves. A luta trouxe uma gama de direitos para os trabalhadores e, principalmente, para os funcionários públicos. A Constituição de 1988 foi sua maior expressão. O quadro da década de 1990 foi absolutamente diferente. O controle sobre os grandes meios de comunicação foi muito maior e mais sofisticado. O individualismo era passado, ora, de maneira patente, ora, latente, pelas novelas e pelos telejornais. Simultaneamente, na medida em que os partidos de esquerda cresceram, começaram a caminhar ao centro e a direita. Os sindicatos, por sua vez, cada vez mais, ficaram burocratizados e instrumentos de partidos políticos e seus grupos eleitoreiros. Ganhar a direção de um sindicato passou a ser sinônimo de colocar-se como possível candidato às diversas eleições ou a utilização da máquina para eleger os preferidos de seu grupo político. Muitos sindicalistas se locupletaram dos grandes recursos obtidos com a contribuição compulsória dos trabalhadores, servindo, mormente, às candidaturas no afã de conquistas maiores, diziam. A corrupção passou a tomar conta de muitos sindicatos, centros acadêmicos no movimento estudantil e partidos políticos de esquerda. Estes que queriam mudar o mundo utilizavam as mesmas táticas egoístas e autoritárias dos capitalistas liberais. As bases foram se distanciando das direções e das lutas fratricidas entre os diversos grupos vermelhos, agora, desbotados. As pessoas começaram a temer a associação. Definitivamente, as lutas subordinavam-se às esperanças eleitorais. Enfim, a luta sindical entrou em profundo descrédito junto aos trabalhadores que não conseguiram encontrar meios para afrontar a reestruturação produtiva, a acumulação flexível, as políticas neoclássicas, o...
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O AMOR ACABOU: A GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO E O PT

Wallace dos Santos de Moraes[1] Agosto de 2012, durante a greve docente O partido dos trabalhadores surgiu no final da década de 1970, colaborou sobremaneira para a derrubada da ditadura civil-militar e ainda serviu como instrumento de luta da classe trabalhadora. A CUT fora o braço sindical do partido e teve como sua base, dentre outros, dois principais polos: o ABC paulista e o funcionalismo público. Enquanto o PT não ocupou o poder, esteve ao lado das demandas dos trabalhadores, defendendo a luta direta econômica (greves, reivindicações por salários etc.) juntamente com a luta política (eleições). Assim, na década de 1980, os trabalhadores conquistaram uma série de direitos. A Constituição de 1988 foi a maior expressão destas conquistas. O funcionalismo público foi o setor mais favorecido, sobretudo pela garantia da estabilidade. Esse fenômeno só foi possível por alguns motivos: 1) a força reivindicativa e a disposição para sustentar greves; 2) o PT e a CUT foram instrumentos importantes de organização da luta; 3) o setor empresarial, deveras organizado, conseguiu obstar o avanço de direitos para os trabalhadores do setor privado, mas não foi tão enfático contra o setor público, por questões óbvias. Com efeito, servidores públicos e PT estiveram lado a lado nas lutas. Inclusive, vários quadros do partido saíram do funcionalismo. O namoro apaixonado e intenso durou até a chegada do partido ao poder Executivo nacional. As carícias e os beijos resultaram num casamento que parecia eterno. A lua de mel durou até meados do primeiro mandato do partido, quando, até então, a expectativa era muito grande. Para determinados setores e militantes, Lula chegara aostatus de Messias, era o grande herói do funcionalismo. Entretanto, desde antes de chegar ao poder, o PT tinha um amante: era a classe dos banqueiros. Suspeitava-se, mas ninguém confirmava com exatidão, pois os encontros aconteciam na calada da noite. No segundo mandato, o ceticismo ganhava espaço e o mito do herói foi se desfazendo aos poucos. Todavia, as opções eleitorais “viáveis” eram Lula ou o PSDB. A partir destas, o funcionalismo ainda escolhia o PT. Entretanto, a esperança virara decepção. A reforma de previdência foi um grande golpe. Entretanto, muitos permaneceram casados por comodismo. As carícias acabaram e o amor não acontecia mais. O governo passou a flertar também com os pobres e miseráveis, comprando o seu amor com bolsas-esmolas, enquanto permanecia amando intensamente os banqueiros. Assim, não tinha mais tempo para o funcionalismo....
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A COBERTURA ANTIPOPULAR DA MÍDIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Wallace dos Santos de Moraes[1] Texto escrito durante a greve docente de 2012 Resumo:O objetivo deste trabalho é resgatar algumas intervenções da grande mídia brasileira sobre acontecimentos políticos e evidenciar o seu caráter partidário em defesa do capitalismo e da institucionalização da luta do trabalhador, colocando como anátema as perspectivas da luta econômica direta. Atualmente, grande parte dos professores brasileiros encontra-se em greve. A maioria das instituições federais de ensino fez esta opção em função da luta por um plano de carreira decente, dentre outros pontos, negados pelo governo há tempos. É óbvio que a greve significa enfrentamento com o poder e luta direta econômica. O problema é que os docentes não têm espaço na grande mídia para expressar os seus motivos e esclarecer à população. Nossas manifestações vêm sendo sorrateiramente ignoradas ou não contempladas na sua magnitude pelos monopólios da comunicação. No dia 20 de junho, o pessoal da educação fez uma grande manifestação no Centro do Rio por conta da Rio+20, juntando-se aos movimentos sociais e ambientais. Na semana seguinte, mais precisamente no dia 28 de junho, fizemos outra manifestação no Centro do Rio. Não tínhamos as 80 mil da semana anterior, éramos poucos, umas cinco centenas, entretanto,o jornal O Globo ignorou por completo, tal como normalmente fez ao longo da nossa recente história. Não obstante, no domingo seguinte, dia 01 de julho,o jornal estampa em sua capa, como principal manchete: “Setor público paga mais do que empresa privada”. Esta notícia vem justamente quando o funcionalismo público começa a se mobilizar e reivindicar melhores salários, condições de emprego e planos de carreira! Com essa reportagem o jornal passa para a “fase dois”. Na primeira, ele tenta ignorar o movimento reivindicativo; quando não consegue fazer perder força o movimento pela tática de “não está na mídia, não existe”, a família Marinho e seus funcionários entram na fase dois e começam a tentar minar o movimento,procurando deslegitimá-lo. Corroborando nossa análise, uma das passagens do jornal diz o seguinte: “…como os servidores têm estabilidade, uma espécie de seguro, deveriam ganhar menos do que os que estão no setor privado, que correm mais riscos: pode-se dizer que o funcionalismo tem uma dupla vantagem, o salário mais alto e a estabilidade” (Jornal O globo, 01 de julho, p. 03). O jornal, como de práxis, sem nenhum critério, defende que o funcionalismo público deveria receber menos que o setor privado!!! Essas palavras vêm...
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UNESP Entrevista Wallace de Moraes

Leia a entrevista com professor Wallace de Moraes clicando no link abaixo:   http://www.mundodigital.unesp.br/webjornal/materia.php?materia=2408...
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AS EXPECTATIVAS FRUSTADAS DO INÍCIO DO SÉCULO XXI

AS EXPECTATIVAS FRUSTADAS DO INÍCIO DO SÉCULO XXI Wallace dos Santos de Moraes[1] – outono de 2012 O século XXI começou com a maior potência econômica e militar do mundo sofrendo o maior ataque em seu território de sua história. Na Europa, os movimentos anti-globalização marcaram presença em todos os encontros das elites políticas e econômicas mundiais, demonstrando sua insatisfação com as desigualdades e ataques ambientais produzidos por um sistema que coloca o lucro acima da vida. A América Latina começou o século empolvorosa com movimentos indígenas em alguns de seus países e populares mais amplos em outros, criticando o neoliberalismo impenitente. No Brasil, o século passado terminou com um grande movimento de trabalhadores rurais sem terra, ocupando e denunciando o latifúndio, prometendo muito para o século XXI. Quais foram os resultados práticos de mudanças desses movimentos pelo mundo? Um negro foi eleito presidente da maior potencia mundial em um dos países mais racistas do planeta. Um operário, retirante, nordestino, fundador de um dos maiores partidos de massa do mundo, chegou a presidência no Brasil. Um indígena foi eleito para o maior cargo político da Bolívia. Vários partidos de esquerda chegaram ou voltaram ao poder na Europa e na América Latina, com destaque para os sandinistas na Nicarágua. Mas no plano da economia política, quais mudanças concretas aconteceram? As mudanças foram poucas e praticamente efêmeras. Nos EUA, a chegada do negro ao poder, não alterou a política externa agressiva do país, nem melhorou a vida dos ex-escravos. Na Bolívia, os indígenas passaram a ter um representante na presidência da república, mas não conseguiram com isso qualquer mudança na sua qualidade de trabalho precário, com parcos salários, ou reaver suas terras perdidas por séculos. Na Nicarágua, os sandinistas se transformaram em administradores dos interesses do capital, ignorando o empenho, a luta, a doação de diversos lutadores que foram assassinados para que um dia todos fossem considerados iguais. No Brasil, a chegada do operário, grevista da década de 1980, não significou nenhum aumento de direitos para as classes trabalhadoras, tampouco a retomada das lutas operárias e camponesas por melhores condições de vida. Entretanto, do ponto de vista simbólico, do marketing, da estética e da aparência foi uma grande jogada das classes dominantes para oxigenar o que já está praticamente morto e sem crédito em quase todo o mundo, a saber, a democracia representativa. Por outro lado, os movimentos que levaram esses...
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Genealogia do Trabalho no Mundo em que Vivemos

Wallace Moraes Verão de 2012 Rousseau defendeu no seu livro “As origens das desigualdades entre os homens…” no século XVIII que “o homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado. O que se crê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles.” Quando nascemos já encontramos um mundo com valores, crenças, hábitos e sobretudo uma forma de trabalho. É muito comum algumas crianças perguntarem aos pais porque um coleguinha tem muito e outros poucos. Como responder? Em uma comunidade indígena tal pergunta não teria sentido, já que todos comungam de uma vida comum, sofrendo e usufruindo mais ou menos das mesmas coisas, coletivamente. Por consequência, já sabemos que as desigualdades dizem respeito essencialmente a forma de organização da sociedade. No regime capitalista, as desigualdades acontecem em função de vários fatores. As elites, os grandes meios de comunicação, e o pensamento liberal argumentam que aqueles que não recebem altos salários e que sofrem por falta de emprego, de moradia e até mesmo de comida e dignidade são penalizados pela sua falta de perseverança e sobretudo amor ao trabalho. Todos sabemos que este argumento não é totalmente real. Sabemos, sim, que existem muitos preguiçosos ao nosso lado fruto de um modo de vida praticamente sem sentido, pois desligado do prazer do trabalho. Mas como argumentar que a miséria do boia-fria é resultado de preguiça? Esses exemplos não estão apenas no campo. Nas cidades podemos ver diariamente o quanto trabalha um caixa de supermercado, um motorista de ônibus, uma empregada doméstica, um faxineiro de shopping, um padeiro, terceirizadosem geral. Estessão apenas alguns exemplos de milhões de trabalhadores formais com alto grau de exploração. Vamos chamá-los de trabalhadores formais-precarizados. Esses têm apenas um dia de descanso semanal, caindo, as vezes, no domingo. Muitos são obrigados a fazer hora-extra, sob pena de perder o emprego. Normalmente são humilhados pelos patrões e pelos clientes, quando estes o percebem. E pior de tudo, veem seus patrões enriquecerem enquanto eles permanecem pobres. Como explicar isso? Falta de trabalho, de empenho, preguiça? É obvio que não. Mas na sociedade em que vivemos existe um setor pior do que o supracitado. Compõem esse time os chamados trabalhadores informais, são eles: camêlos, feirantes, trabalhadores de pequenas lojas etc, pedreiros, faxineiros, trabalhadores do campo. Esses não têm carteira de trabalho assinada e portanto não têm férias, 13° salário, e, pior, a garantia de uma aposentadoria no...
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O legado de Jesus e o capitalismo

Wallace Moraes Maricá, 08 de abril de 2012. Hoje é domingo de Páscoa e os cristãos do mundo inteiro fazem reverência à vida de Jesus Cristo. Mas quem foi efetivamente Jesus? Existem muitos livros, sem falar na bíblia, a relatar a vida dele. Não é este meu propósito aqui, mas apenas resgatar seu legado e compará-lo com o que se prega nos dias atuais. Jesus foi um camponês nascido no Mediterrâneo que pregou a igualdade entre os homens, o repartir do pão e o amor ao próximo. Estes foram os seus principais legados. Ao defender que todos somos irmãos perante Deus, ele atacava a extrema desigualdade existente em sua época e tangencialmente o poder estabelecido garantidor da mesma. Ao defender a repartição do pão (entre todos) e o amor ao próximo (a qualquer um) não só reafirmava a pretensão de igualdade social, mas, para além disso, defendia que o fruto do trabalho deveria ser dividido entre todos indiscriminadamente. O “Pai Nosso” foi a única oração escrita por Jesus e lá podemos ver muito claramente: 1) a defesa da distribuição do pão; 2) o perdão das dívidas. Hoje, muito lamentavelmente estão tentando mudar para “perdão das ofensas”. O perdão das dívidas diz respeito ao aspecto do seu tempo, talvez também do nosso, pois muitas pessoas encontravam-se endividadas com relação aos poderosos de então; hoje, tal como no passado, as pessoas devem a bancos que cobram juros exorbitantes quando emprestam e dão juros ínfimos quando usam o dinheiro das pessoas. Quando Jesus prega apenas respeito a Deus, sem intermediários, o único todo poderoso, querendo ou não atentava contra a autoridade terrena estabelecida e é exatamente por isso que ele será cassado e morrerá na cruz. Jesus não fez concessão aos donos do poder, inclusive desautorizando-os, por isso é crucificado. Também não quis se constituir enquanto autoridade sobre os demais, ao contrário, sua liderança, fazia com que se sentasse ao lado da pessoa mais excluída da sociedade, pregando-lhe o bem, sem hierarquia. Atualmente, muitas pessoas que se dizem cristãs não seguem nem de longe os princípios de Jesus. Inclusive, até em nome dele pregam o enriquecimento individual, a busca incessante pelo lucro, quando ganham alguma coisa dizem que foi Deus quem deu (para ele sozinho), defendem a pena de morte (que praticamente só será aplicada contra pobres), pregam em nome de Jesus, mas querem em troca algum ganho financeiro etc. Pregam respeito...
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