Enquanto vários militantes do Black Bloc foram presos, o governador Sergio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e os demais nobres deputados e vereadores continuam circulando livremente na cidade.
Agora o governo Cabral não só continua a ter uma enorme rejeição junto à população, mas também conta com presos políticos, que foram levados para os excelentes complexos presidiários do Rio de Janeiro. Lá eles serão reformados e talvez saiam acreditando que todo político é honesto.
A grande mídia já vinha preparando a opinião pública para aceitar a reação do Estado. Nos jornais, nas rádios e nas televisões defendia-se abertamente uma ação drástica contra os componentes do Black Bloc, também chamados de vândalos.
Com efeito, cabe uma reflexão histórica mais ampla para constatarmos como a tragédia se repete. Na década de 1960, mais precisamente, em 1963, os principais donos de jornais (O Globo, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e outros), juntos com empresários, intelectuais e militares com apoio da CIA (Agencia de Inteligência Americana) criaram o IPES (Instituto de pesquisa e Estudos Sociais). Seu principal objetivo, segundo Renê Dreiffus no livro “A Conquista do Estado”, era preparar a opinião pública para aceitar e até reivindicar o golpe militar e o governo subsequente. De acordo com essa excelente pesquisa, as notícias foram preparadas para se criar um consenso em favor do golpe militar e a ditadura civil-militar que se instalaria logo após.
Em 2013, exatamente 50 anos depois, a grande mídia, trabalha para criar um novo consenso contra as ações políticas. O alvo não é mais os comunistas, como em 1964, pois, inclusive, muitos estão no governo, mas contra o Black Bloc, os homens de preto, os anarquistas, os vândalos. Todos sabiam que isso aconteceria, pois vivemos em um estado policial. E foi exatamente por isso que eles andavam mascarados e procuravam não se identificar, todavia a tecnologia atual, junto com os infiltrados das forças de repressão no movimento, além da denúncia de sindicalistas governistas e paragovernistas, fez com que seus componentes fossem identificados. Resultado: presos políticos em 2013.
Enfim, os grandes eventos que impulsionaram as remoções de pessoas das favelas e periferias, bem como gastos exorbitantes com estádios de futebol, em meio à ausência de investimento em saúde e educação, são as justificativas esdrúxulas para as prisões políticas no Brasil.Tudo isso acontece um ano antes da Copa do Mundo e três anos antes das Olimpíadas no Brasil. Ficará pior?
Todos esses aspectos confirmam várias premissas da manutenção do capitalismo nas democracias liberais. Quando existe uma revolta popular que ameace o poder estabelecido e imponha prejuízos ao grande capital, pondo em xeque inclusive o poder político, ela é abafada por dois conceitos caros a Gramsci: coerção e convencimento. E é exatamente sob essa díade que estamos passando agora. A grande mídia com seus intelectuais orgânicos buscam forjar o consenso contra os manifestantes mais impenitentes; e as forças de repressão (Justiça e polícia) efetuam as prisões dando um back em todo o movimento. O sinal foi dado: “não vá para a rua reivindicar, senão te prendo, sob a alegação mais absurda: formação de quadrilha.” A justificativa é a mesma do período ditatorial explícito entre 1964 e 1985. Hoje a ditadura é para os manifestantes das ruas. Inclusive essa ação não foi tomada exatamente em junho, pois primeiro, era difícil identificar os líderes no meio de mais de um milhão de pessoas nas ruas; depois, as manifestações contavam com amplo apoio popular. Foi necessário, portanto, um trabalho diário de convencimento da necessidade de se prender os vândalos, aqueles que quebram vidraças de bancos, manequins de lojas de luxo e fecham ruas, impedindo o trânsito. A partir desses fatos, parece claro que vivemos em uma ditadura, sob o manto de democracia. A maioria das prisões realizadas nas décadas de 1960/70 foram justificadas pelo porte de arma, pois muitos brasileiros foram para a luta armada. Hoje, esses garotos nunca portaram armas de fogo, nem atiraram em ninguém, mas alegam que eles constituem-se como quadrilhas armadas, por portarem arma branca em casa, como facas, especialmente, em um lugar chamado de cozinha.
Liberdade para todos os presos políticos!