Wallace Moraes
Maricá, 08 de abril de 2012.
Hoje é domingo de Páscoa e os cristãos do mundo inteiro fazem reverência à vida de Jesus Cristo. Mas quem foi efetivamente Jesus? Existem muitos livros, sem falar na bíblia, a relatar a vida dele. Não é este meu propósito aqui, mas apenas resgatar seu legado e compará-lo com o que se prega nos dias atuais.
Jesus foi um camponês nascido no Mediterrâneo que pregou a igualdade entre os homens, o repartir do pão e o amor ao próximo. Estes foram os seus principais legados. Ao defender que todos somos irmãos perante Deus, ele atacava a extrema desigualdade existente em sua época e tangencialmente o poder estabelecido garantidor da mesma. Ao defender a repartição do pão (entre todos) e o amor ao próximo (a qualquer um) não só reafirmava a pretensão de igualdade social, mas, para além disso, defendia que o fruto do trabalho deveria ser dividido entre todos indiscriminadamente.
O “Pai Nosso” foi a única oração escrita por Jesus e lá podemos ver muito claramente: 1) a defesa da distribuição do pão; 2) o perdão das dívidas. Hoje, muito lamentavelmente estão tentando mudar para “perdão das ofensas”. O perdão das dívidas diz respeito ao aspecto do seu tempo, talvez também do nosso, pois muitas pessoas encontravam-se endividadas com relação aos poderosos de então; hoje, tal como no passado, as pessoas devem a bancos que cobram juros exorbitantes quando emprestam e dão juros ínfimos quando usam o dinheiro das pessoas.
Quando Jesus prega apenas respeito a Deus, sem intermediários, o único todo poderoso, querendo ou não atentava contra a autoridade terrena estabelecida e é exatamente por isso que ele será cassado e morrerá na cruz. Jesus não fez concessão aos donos do poder, inclusive desautorizando-os, por isso é crucificado. Também não quis se constituir enquanto autoridade sobre os demais, ao contrário, sua liderança, fazia com que se sentasse ao lado da pessoa mais excluída da sociedade, pregando-lhe o bem, sem hierarquia.
Atualmente, muitas pessoas que se dizem cristãs não seguem nem de longe os princípios de Jesus. Inclusive, até em nome dele pregam o enriquecimento individual, a busca incessante pelo lucro, quando ganham alguma coisa dizem que foi Deus quem deu (para ele sozinho), defendem a pena de morte (que praticamente só será aplicada contra pobres), pregam em nome de Jesus, mas querem em troca algum ganho financeiro etc. Pregam respeito e submissão às autoridades estabelecidas negando o princípio da igualdade total entre os homens. Na verdade, o deus dessas pessoas não é o mesmo do de Jesus, eles idolatram o deus dinheiro e o deus autoridade – querem e reproduzem a ânsia por capital e não a vida igualitária, livre e justa, sem subjugação a governantes. São estas mesmas pessoas que discriminam outros por religiões diferentes, ou simplesmente por não ter religiões. Coisas que Jesus jamais fez e nem podia fazê-lo, pois pregava a liberdade de opinião.
Em resumo, Jesus nunca pregou uma vida de riqueza abundante, nem de submissão natural aos donos do poder, pelo contrário, condenou os ricos, dizendo “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”.
Por fim, defender os principais ensinamentos de Jesus: o repartir do pão, o amor ao próximo, a igualdade entre os homens, a não idolatria de autoridade terrena, o respeito a opiniões diferentes, continua mais atual do que nunca embora aqueles que estão tão dominados pelos deuses do capitalismo – o dinheiro e a autoridade -, critiquem nossa postura e queiram nos crucificar.
Tomara que um dia possamos viver, enfim, com o verdadeiro legado cristão livre das amarras do individualismo, do egoísmo, do autoritarismo, do dinheiro, do lucro e que o fruto do trabalho do homem (o pão nosso de cada dia) pertença a ele e a seu coletivo, sem necessidade de ser administrado por outrem, seja patrão ou governante. Este é o verdadeiro amor ao próximo, garantir o bem-estar de todos. Feliz Páscoa!