Posted on Oct 5th, 2020
“MODERNIDADE: RACISMO, CAPITALISMO E ESTADOLATRIA” Aula dia 03 de setembro[1] Autor: Wallace de Moraes (IFCS/UFRJ) Edição/transcrição: Cello Latini Maquiavel, Hobbes, Locke, Rousseau, Kant, Hume, Tocqueville, Montesquieu, Burke, Hegel, Stuart Mill, Adam Smith, Spinoza, Hamilton, Madison, Weber… São os considerados clássicos do pensamento moderno. Mas qual o contexto em que eles escrevem? É o contexto do colonialismo. Esses autores estão escrevendo entre o final do século XV até o XX, quando o colonialismo está em pleno vigor. E aí já tem o princípio racista, da desigualdade, da discriminação, da violência contra o outro. E agora é um novo racismo, um racismo de corte, baseado amplamente na ideia da cor da pele, porque até então não tinha isso. Bom, na Europa vigora todo um regime de servidão. A passagem do regime de servidão medieval, feudal, para um princípio moderno. Esse regime de vassalagem, que depois passa para o modelo capitalista de produção, tira uma exclusão e piora para outra. O trabalhador europeu, que antes trabalhava em sua terra – parte do que produzia era para ele, existia certa liberdade, e havia muitas terras comuns na Europa, em que as pessoas trabalhavam sem necessidade de prestar contas para um senhor –, passa para o capitalismo – o que é visto pela literatura liberal e pela literatura marxista como algo positivo. A única literatura, que parte dos Europeus, e que criticava o capitalismo foi a dos anarquistas, e Kropotkin é o melhor deles. Na América e na África se estabelece um regime de escravização de corpos negros e indígenas. Uma crueldade. Todos os europeus sabiam desse regime de escravidão de outros povos. Qual dos autores aqui mencionados criticou a escravidão? Deixe-me inverter a pergunta. Quais deles justificaram a escravidão, legitimaram a escravidão? Alguns eram proprietários de escravos. Além disso, temos a consolidação do patriarcado. Como já falei, a queima de mulheres insubmissas, consideradas bruxas, e a perseguição aos que fogem dos padrões heteronormativos. E aí estão os princípios igrejista, militarista, patriarcal, capitalista: modernos. São todos princípios da modernidade. Ademais – e isso é que eu quero contribuir com vocês –, não só há as ideias de patriarcado, capitalismo, exploração e racismo: há o princípio também da Estadolatria. Todos os autores modernos justificaram a existência do Estado. Para Hegel, o Estado era a expressão máxima da razão. Não era possível pensar para além da formação estatal, diziam os pensadores modernos. Eles discutiam sobre...
Posted on Oct 5th, 2020
“LIBERALISMO E RACISMO PARTE II” Aula dia 19 de setembro de 2020[1] Autor: Wallace de Moraes (IFCS/UFRJ) Edição/transcrição: Cello Latini Eu quero voltar ao ponto sobre o racismo e o liberalismo, e trouxe comigo alguns textos: As Paixões e os Interesses, de Hirschman, La democracia liberal y su época e A teoria política do individualismo possessivo, de Macpherson. Este último é da época em que eu estava na graduação no IFCS, e um professor de filosofia, o Franklin Trein, com quem eu estava tendo aula, me indicou esse livro. Foi muito legal para mim, porque eu me identifiquei muito com essa perspectiva do Macpherson. Mas a fonte principal de todas essas questões que eu vou tratar com vocês a partir de agora vem do Dominico Losurdo. Chama-se Contra-História do Liberalismo, um livro muito bom. Losurdo é um italiano e um crítico marxista. Tenho algumas discordâncias com ele, mas nessa perspectiva ele serve como uma excelente fonte. Vamos às nossas teses. George Washington, nos discursos oficiais, declarou que levaria “as bênçãos da civilização” para a “raça não iluminada”, todavia, mostra Losurdo (2015), nas cartas particulares usava as palavras mais intimamente reais, como “animais selvagens da floresta”. Então vejam – o George Washington, que é uma grande referência política nos Estados Unidos, foi o primeiro presidente do país, tratava os indígenas como selvagens. Esses indígenas eram classificados como subumanos, para esses pensadores, para esses governantes. Vejamos o que dizia Benjamin Franklin, “se faz parte dos desígnios da Providência extirpar esses selvagens para abrir espaço aos cultivadores da terra, parece-me oportuno que o rum seja o instrumento apropriado. Ele já aniquilou todas as tribos que antes habitavam a costa” (LOSURDO, 2015: 30). A distribuição do rum para aniquilar os indígenas foi uma forma de facilitar o extermínio indígena. Eu não sei se a mesma coisa foi feita com a cachaça no Brasil, se, em alguma medida, drogas foram utilizadas para exterminar, mas eu não sou estudioso desse processo, então fica aí um ponto para pensarmos. A difusão de rum que, no caso, Benjamin Franklin defende abertamente, para exterminar os indígenas é, em certa medida, semelhante ao que aconteceu aqui nas Américas, em diferentes contextos históricos. Já na perspectiva de Hugo Grotius: E se ele é dedicado a um espírito mau, é falso e mentiroso e significa um crime de rebelião; uma vez que a honra devida ao Rei não apenas lhe é subtraída, mas é inclusive transferida...